Introdução
No
tempo de Fernando Magno, rei de Leão (1073), “aqui se fundou um convento de
freiras agostinhas”.
Foi extinto a 6 de Janeiro de 1535, passando
os seus privilégios para o mosteiro beneditino de Avé Maria no Porto.
Em 10 de Dezembro de 1867, foi criado o concelho de Rio Tinto. Dele faziam parte sete paróquias civis: Águas Santas, Covelo, Gondomar, São Pedro da Cova, Rio Tinto, Valbom, São Vicente de Alfena e Valongo. Extinguiu-se a 14 de Janeiro de 1868.
Em
28 de Junho de 1984 adquiriu a categoria de vila, agora com duas freguesias –
Rio Tinto e Baguim do Monte. A 21 de Junho de 1995 passou à categoria de cidade
de Rio Tinto, constituída pelas freguesias: Rio Tinto e Baguim do Monte.
Primeira Estação de Rio Tinto - A chegada de um comboio
Fonte: Camilo de Oliveira. 1933.Vol. IV p. 24
Obtida
a garantia e apoio dos bancos do Porto, Braga e Guimarães, inicia-se a
construção do caminho de ferro do Minho, pelo
decreto 14-6-1872.
Então
a 21 de Maio de 1875 foi inaugurada a linha do Minho e pouco tempo depois, em
Julho a linha do Douro até Penafiel. Entre as estações e apeadeiros construídos
encontra-se a estação de Rio Tinto.
Estação de Rio Tinto no início do século XX.
Fonte: Gazeta dos Caminhos de Ferro – 1130 - 1935
Os
trabalhos da Linha do Minho iniciaram-se no dia 8 de Julho de 1872, tendo o
primeiro troço, até Braga, sido aberto à exploração em 20 de Maio de 1875. As
obras na Linha do Douro principiaram em 8 de Julho de 1873, tendo o primeiro
troço, entre Ermesinde e Penafiel, entrado ao serviço no dia 30 de Julho de
1875], até à Régua, em 15 de Julho de 1879 e ao Pinhão, a 1 de Junho de 1880.
Em 23 de Julho de 1883, foi decretado o alargamento até Barca d´Alva e depois
em setembro até ao Tua e até ao Pocinho, em janeiro de 1887.
Em
1899, a Câmara de Gondomar, face à crise económica que o país atravessava, em
sessão de 26 de janeiro emite o parecer de que “as duas projetadas linhas
férreas entre o Porto e S. Pedro da Cova e entre Viseu e Recarei, na linha do
Douro, devem ser abandonadas por uma só – do Porto a Viseu – tendo por pontos
obrigados S. Cosme, Jovim, Barraca, S. Pedro da Cova, Medas, Melres, Raiva,
Sobrado – próximo – Vale do Paiva, etc. O caminho de ferro Porto-Viseu – satisfaz plenamente as
necessidades industriais e comerciais das províncias do Douro e Beira Alta.”
(Camilo de Oliveira. 1936. Vol. IV. p.25)
Importância da
Estação de Rio Tinto
A Estação serve de escoamento do carvão de S.
Pedro da Cova de grande importância para o desenvolvimento industrial do Porto e
do norte do país.
Para solucionar o a necessidade do transporte
do carvão, até ali transportado em carros de bois puxados por carreteiros, foi
construído segundo alvará datado de 29 de novembro de 1913, pela Companhia da
Minas de S. Pedro da Cova, o Cabo Aéreo encomendado à sociedade alemã Pohlig de
Colónia (representada no Porto por Jonh. Hitzemann). O Ministério do Fomento por
intermédio da Direção das obras Públicas do Distrito do Porto deu autorização
para a sua exploração definitiva em 1916.
No Cabo Aéreo, teleférico ou funicular aéreo
as cargas a movimentar são suspensas de cabos e deslocadas de um local para
outro. O Cabo Aéreo que foi montado para transporte do carvão entre S. Pedro da
Cova, Rio Tinto e o Monte Aventino, no Porto, compõe-se, essencialmente de um
cabo forte em aço - o Cabo Carril - ou
- Cabo Via - onde eram suspensas
numerosas cestas, equipadas com roldanas ou rodízios, e puxadas por um cabo
mais fino - o cabo trator.
O cabo aéreo ligava a Mina de S. Pedro da
Cova à estação de Rio Tinto.
Está a Mina ligada aos Depósitos de Rio Tinto e Monte Aventino por meio de um Cabo Aéreo com cêrca de 10 Km de extensão. Na presente fotografia mostra-se a máquina a vapor (150C.V.) que aciona o Cabo.
Fonte: Álbum Companhia
das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
As cestas eram
movimentadas, a partir da Mina por uma máquina a vapor, e mais tarde,
por um motor elétrico.
O carvão depositado
nas "tolvas" ou "tremonhas" da mina era descarregado por
gravidade através de portinholas, diretamente para dentro das cestas
que suspensas dum carril em ferro iam passando à sua frente
empurradas manualmente. O cabo trator puxava-as para cima do cabo carril
e transportava-as até Rio Tinto.
Pouco depois da Mina foi necessário realizar um vão, entre pégãos de 315m. Para diminuir as flechas do cabo via, criou-se esta “estação tensora”.
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas
instalações, 1940
Cesta a passar na Estação de Rio Tinto
Esquema do Transportador aéreo, ARPPA nº1, p. 25
Fonte: Traçado do Transportador aéreo; ARPPA nº1, p. 25
Fonte: Álbum Companhia
das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
“É por meio da Estação de Rio Tinto que se fazem as expedições por caminho de ferro para tôda a a Rêde ferroviária do País”
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
“Depósito em Rio Tinto, Fábrica de briquetes e linha fárrea da Companhia”
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
Em Rio Tinto as cestas eram desengatadas
automaticamente do cabo-trator e empurradas à mão. Depois ou eram levadas para
os depósitos de armazenamento e empurradas vazias para o local onde seriam de novo
engatadas, ou ainda cheias seguiam para o Monte Aventino para abastecer as
empresas e casas da cidade do Porto. Daí o carvão era transportado em vagonetas
para as carregadeiras, donde era despejado, diretamente, nos carros de bois,
zorras ou camionetas que o
distribuíam pelos consumidores. As cestas na volta,
eram cheias de madeira, na Estação de Rio Tinto para as galerias das minas de S. Pedro da Cova.
O comboio, além de permitir a mobilidade de
passageiros, permite a mais fácil comercialização de diversos produtos, alguns
produzidos em Gondomar, como o milho, vinho, mobiliário, entre outros.
Com
efeito, a Estação de Rio Tinto constitui
um importante ponto de escoamento de uma freguesia industrial que possuía
quatro fábricas têxteis; uma de briquetes (ligada às Minas de S. Pedro da
Cova); uma de álcool vínico, movida a vapor e eletricidade, um moinho a vapor
no lugar do mosteiro (Inquérito industrial de 1878) e ainda do carvão que de
S. Pedro da Cova ( a 6 quilómetros) que era escoado parte em Rio Tinto, parte
no Monte Aventino.
Com
a construção da Estação de Rio Tinto, Gondomar passou a beneficiar da rede do
Minho e da rede do Douro, até Ermesinde, numa extensão de 6 quilómetros.
Com a construção da Estação de Rio Tinto desenvolve-se uma nova centralidade económica que em muito contribui para o desenvolvimento local.
Perto da estação, constroem-se vários armazéns, como os A. F. Cavadas e outros.
Década de 30
Na reunião do Conselho de Ministros de 10 de
Janeiro de 1934, foram aprovadas as condições para os contratos definitivos
para a realização de várias obras nesta estação, de um cais coberto e outro
descoberto, de uma plataforma de passageiros e a correspondente calçada, dos
muros de suporte e das vedações. É, então inaugurada, em 1935.
O átrio e plataforma da nova estação são
recobertos de azulejos, da autoria de José Alves e executados na fábrica da
Viúva de Lamego, numa lógica difundida na época de Estação, sala de visitas da localidade, que deve atrair forasteiros para desfrutar da belezas da região.
O conjunto de azulejos do átrio apresenta motivos florais e zoomórficos e recebeu o 1º Prémio do Concurso das Estações Floridas, do SNI, em 1943 e em 1953, ficou em 5º lugar.
Foto: Maria Gomes, 2021
Foto: Maria Gomes, 2021
O prémio alcançado no contexto das estações floridas promovido pelo SNI, encontra-se numa dependência, na gare da estação.
Foto: Maria Gomes, 2021
Tabela criada com base na documentação consultada em Torre
do Tombo, Correspondência Relativa ao Concurso “Estações Floridas”,
Secretariado Nacional de Informação, cxs. 971 e 3475. ( Tiago Lourenço)
Noutros anos, a Estação de Rio Tinto foi, ainda, premiada com uma menção honrosa, distinção que dava lugar a uma quantia em dinheiro (500$00) mas não troféu.
No entanto, apesar da importância do prémio monetário para fazer face às despesas de estações com magros orçamentos, contava muito o prestígio conquistado, materializado no troféu cerâmico desenhado pelo artista plástico Carlos Botelho (1899-1982) e de execução da "Fábrica Viúva Lamego".
No
final do século XIX, início de vinte na pintura, em geral, a pintura obedece a um
naturalismo que incide sobre o bucólico das paisagens rurais que se vai perdendo com o desenvolvimento da revolução industrial. Esta conceção vai ser
aplicado, sobretudo, a mercados e estações ferroviárias, nas quais, esta realidade aparece
como uma exposição do património regional.
Na Linha do Minho, o conjunto azulejar da estação de Rio Tinto executado por J. Alves de Sá em 1936, aquando da construção do novo edifício, é composto por nove painéis alegóricos colocados na fachada voltada para o cais.
Na frontaria, os temas prendem-se com realidades locais, em ligação com o rio Douro e com a arquitetura civil barroca local.
Nos
três panos centrais são representadas cenas da Batalha em 824 entre Abd-El
Hamam Kalifa de Cordoba e o Rei Ordonho II, rei de Leão. Um deles apresenta, mesmo
legenda.
Painel da Batalha entre Abd-El Hamam Kalifa de Cordoba e o Rei Ordonho II, rei de Leão
Foto: Maria Gomes, 2021
Painel da Batalha entre Abd-El Hamam Kalifa de Cordoba e o Rei Ordonho II, rei de Leão
Foto: Maria Gomes, 2021
Foto: Maria Gomes, 2021
Fotos: Maria Gomes, 2014
O
painel central alude à lenda da batalha sangrenta que terá dado origem à
designação da localidade de Rio Tinto, embora existam outras explicações mais
científicas.
Alves
de Sá introduz um grande movimento, quer através dos guerreiros em ação, quer
num conjunto de corpos que jazem no chão, conferindo aos quadros “rara expressividade
no contexto dos painéis azulejares ferroviários” (Tiago Borges), quando a norma
obedece mais a reproduções fotográficas que “tendencialmente se limitam a
captar um instante e a cristalizá-lo”. (Tiago Borges)
Estas cenas bélicas caraterizam-se pela “sumptuosidade decorativa” (a um nível que raramente se assistiu no próprio barroco) levando o espetador a perder-se na profusão do aparato cénico das composições.
“Mais
do que pelo típico sentimento de pertença/identificação sentimental com as
cenas representadas, habitual na azulejaria ferroviária portuguesa, em Rio
Tinto procurou-se alcançar o espetador através da exaltação do sentido visual,
seguindo os preceitos barrocos como em poucas composições azulejares
revivalistas da primeira metade de novecentos.” (Tiago Borges)
Outros painéis:
Retratam o transporte do vinho do Porto, em ligação com o rio Douro.
Arquitetura civil barroco – palácio do
Freixo de Nicolau Nasoni.
De novo, o transporte do vinho em
pipas, através do rio Douro.
Nas fachadas laterais e traseiras do edifício observa-se um
conjunto de composições barroquizantes nos vãos inferiores do edifício, com grinaldas, enrolamentos, folheados, putti, encimados por
albarradas, numa grande afirmação do estilo barroco.
Século
XXI
Na primeira década de 2000, a empresa Rede Ferroviária Nacional ao estudar a quadruplicação
do lanço da Linha do Minho entre Contumil e Ermesinde, deparou-se com o problema do atravessamento
de Rio Tinto, onde a via passa junto à malha urbana.
Surgiram,
então duas hipóteses:
-
a linha seria quadruplicada à superfície
- ou seria enterrada, passando por debaixo da
cidade num túnel.
Em
Março de 2007, a segunda hipótese foi posta de lado devido a ser muito onerosa
e demorada, o que desagradou a uma franja da população.
Apesar
dos protestos, em 2009 a obra recebeu uma declaração de impacte ambiental
favorável no entanto impondo como
condição várias medidas para reduzir o nível de ruído e as vibrações provocadas
pela passagem dos comboios, e o pagamento justo
dos proprietários que viram os seus edifícios expropriados para
demolição, ou os que vissem as suas condições de habitabilidade reduzida pela
proximidade à linha.
Quanto ao património arqueológico e
etnográfico apenas registou elementos etnográficos: restos de azenhas, um
tanque e um poço, relacionados com as
antigas características agrícolas da região.
Como
impacto positivo foram apontados “ a melhoria exploração ferroviária (nas Linhas do Douro e do
Minho – incluindo as
ligações a Braga e Guimarães), o emprego e os efeitos na economia local durante
a obra, a melhoria das condições de utilização da Estação de Rio Tinto e do
Apeadeiro de Palmilheira/Águas Santas, a melhoria das condições de escoamento
das linhas de água, a redução dos efeitos de erosão a jusante das passagens
hidráulicas e a estabilização de taludes.
A transferência de
passageiros do transporte rodoviário para o transporte ferroviário, decorrente
da melhoria do serviço prestado, contribuirá para a redução das emissões
atmosféricas, em particular dos gases com efeito de estufa.
O ruído proveniente da
circulação ferroviária irá ser menor no futuro com a implementação do projecto
e as correspondentes medidas de minimização.
Finalmente, o aumento da segurança obtida através da vedação da via-férrea e da supressão das passagens de nível constitui um impacte positivo significativo “
Conclusão:
A localização de Rio Tinto constitui um importante elo de
ligação entre entre esta localidade e o
Porto, Vila Nova de Gaia, Maia, Matosinhos e Valongo. A conjuntura demográfica
atual, o grau de infraestruturação e o tipo de economia que a região apresenta
dotam a região de um posicionamento estratégico com relevo.
Ao nível das infraestruturas, esta região integra o Corredor da Faixa Atlântica que estabelece a relação entre o litoral Atlântico da Península Ibérica e o Corredor Ibérico (Norte), que relaciona a AMP com a Espanha. Neste contexto, a rede ferroviária ocupa um importante papel, através da Linha do Minho e da rede de suburbanos do Porto aliada à rede rodoviária, através da Rede Nacional Fundamental de Autoestradas (A4).
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Monográficos. 1999. Edição da Junta de freguesia de Rio Tinto, vol. II p..297,298
REIS, Francisco Cardoso dos; GOMES, Rosa
Maria; GOMES, Gilberto et al. Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006.
[S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A., 2006. 238
p. ISBN 989-619-078-X
Oliveira Camilo,1936. O Concelho de Gondomar,
(apontamentos monográficos), vol IV, Imprensa Moderna L.da, Porto. Caminhos de
ferro. P. 21 a25.
Oliveira Camilo,1936. O Concelho de Gondomar,
(apontamentos monográficos), vol IV, Imprensa Moderna L.da, Porto. Inquérito à
Vida industrial em 1881. P- 111
Volume 08 – Neoclassicismo e Romantismos
(século XIX ).Lisboa. Círculo de
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Webgrafia:
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Gazeta dos Caminhos de Ferro, N.º 1130, 16 de fevereiro de 1930, p. 3 - http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1935/N1130/N1130_master/GazetaCFN1130.pdf
Luz, Carla Sofia, 2010, 05 março às 00.30, Linha do Minho será ampliada sem túnel em Rio Tinto
https://www.jn.pt/local/noticias/porto/gondomar/linha-do-minho-sera-ampliada-sem-tunel-em-rio-tinto-1511116.html
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https://siaia.apambiente.pt/AIADOC/AIA2038/RNT203 -Linha do Minho
-Quadruplicação do Troço Contumil / Ermesinde-Estudo Prévio-Volume 17 – Estudo
de Impacte Ambiental-Tomo 2 – Resumo Não Técnico
https://pt.wikipedia.org/wiki/Linha_do_Douro
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Tiago Borges Lourenço, Postais Azulejados:
Decoração Azulejar Figurativa das Estações Ferroviárias Portuguesas - https://run.unl.pt/bitstream/10362/14575/1/Postais%20Azulejados%20%28Tiago%20Borges%20Louren%C3%A7o%29%20volume1.pdf