terça-feira, 2 de setembro de 2025

Gerardo António Kimpell Ribeiro

 Gerardo António Kimpell Ribeiro


Distinto violinista, nasceu em Valbom em 1950 e está radicado há anos na Florida (EUA). Frequentou o conservatório de Música do Porto, como bolseiro da Gulbenkian. Aos 15 anos, entrou para o Conservatório de Lucerna, Suíça. Em 1967, foi para Juillard, dando concertos na Europa, URSS e América do Sul. Em 1972 participou no concerto organizado pela Câmara de Gondomar. Tem integrado várias das melhores orquestras mundiais.

Paulo de Passos Figueiras, S. Veríssimo de Valbom – subsídios para uma monografia – 1ª edição do Centro Social e Cultural da Paróquia de S. Veríssimo de Valbom, Gondomar, p. 329




Gerardo Ribeiro é atualmente reconhecido em quatro continentes como um dos mais importantes violinistas virtuosos da sua geração. Tendo realizado recitais nalgumas das mais prestigiadas salas de concerto nova-iorquinas, como Carnegie Hall, Alice Tully Hall e Metropolitan Museum, Gerardo Ribeiro apresentou-se igualmente no Kennedy Center de Washington e é apreciado nos principais centros musicais da Europa, América do Sul e Extremo-Oriente.



Como solista de concerto, Gerardo Ribeiro actuou já com as Orquestras Sinfónicas de Filadélfia, Montreal, Dallas, Lucerna, Barcelona e Cali, as Orquestras Filarmónicas de Zagreb e Antuérpia, as Orquestras Nacionais de Taiwan e Bélgica, a Orquestra da Rádio de Paris, as Orquestras de Hilversum (Holanda) e de Hannover (Alemanha) e com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, entre outras formações de primeiro plano. No domínio da música de câmara, exerceu a direcção artística do Instituto Internacional de Música de Câmara de Munique e actuou no Festivais Internacionais de Música de Marlboro e Lucerna.



Gerardo Ribeiro iniciou os seus estudos musicais com a idade de quatro anos, frequentando depois o Conservatório de Lucerna e a Juilliard School, tendo estudado nesta instituição com Ivan Galamian, Paul Makanowitzky e Felix Galimir. No decurso da sua carreira subsequente, obteve numerosos prémios em destacados concursos internacionais, como os Concursos Paganini e de Montreal, e venceu o Concurso Viana da Mota, em Lisboa, e o Concurso Maria Canals, em Barcelona. Depois de ter ensinado violino na Eastman School of Music, Gerardo Ribeiro integrou o quadro docente da Universidade de Northwestern como professor de violino.



As gravações de Gerardo Ribeiro encontram-se disponíveis nas etiquetas EMI e RCA. No âmbito de um projecto ainda em curso, desenvolvido em conjunto com a RCA, Gerardo Ribeiro tem vindo a gravar a integral das sonatas para violino de Brahms e Beethoven, a par com o Concerto para Violino e o Duplo Concerto de Brahms.


Violino Biografias http://www.musica.gulbenkian.pt/

domingo, 29 de junho de 2025

S. Pedro, Valbom-Gondomar

 S.Pedro, Valbom

 

Conta Paulo Figueiras (1998, p. 137-138) que S Pedro  mobilizava uma das maiores festas de Valbom, no dia 29 de junho. 

 

Na véspera, vários conjuntos musicais e zés  pereiras, percorriam a freguesia, anunciando a festividade.

Na capela, no alto de Ribeira de Abade, no dia de S. Pedro, de manhã,  havia missa  solene.

De tarde, havia  a procissão que descia até até ao rio, depois de percorrer as ruas enfeitadas com tapetes e de passar pelas casas que saudavam o cortejo, com belas colchas  à janela. Os barcos eram festivamente engalanados. No final do século XIX, S. Pedro passearia, mesmo, no rio Douro, a abençoar as diversas embarcações.

 

No século XIX:

 

 

Constituição de um Montepio e encomenda da imagem de S. Pedro.

 

As campanhas piscatórias que constituem a tripulação de oito lanchas, resolveram criar um “Montepio que os auxilie nos momentos cruciais na sua penosa vida, escolhendo para o próximo sábado, dia de S. Pedro, seu patrono” o dia da sua criação. ( JN de 27.06.1889)

 

Nesse mesmo dia “foi inaugurada com toda a solenidade, pelas citadas 8 campanhas de pesca estabelecidas em Valbom, descendo na manhã desse dia, o rio, festivamente embandeiradas, trazendo a bordo, uma filarmónica e algumas crianças vestidas de anjo. Desembarcaram no cais da Ribeira (Guindais), onde, depois, cá fora, organizaram um cortejo que subiu até à Rua do Almada, onde foram, para receber na casa do escultor, Albino Ribeiro da Silva, a imagem de S. Pedro, a qual fora encomendada a este escultor. Colocando-a num barco adornado de belas flores e redes de pesca, reorganizou-se na rua o cortejo de regresso até à Ribeira. Seguiram pela Rua do Almada, Praça D. Pedro, Freiras de S. Bento, Rua das Flores, S. João de Abade. Todas as lanchas exibiam os seus estandartes de seda vermelha, tendo cada uma, o nome do mestre de campanha. No estandarte maior e com letras mais salientes, lia-se “Montepio dos Pescadores de Valbom”. Nesta procissão fluvial, incorporaram-se pescadores da Afurada, Foz, Leça, Matosinhos, Avintes e da Póvoa.” Na Ribeira de Abade inaugurou-se o Montepio ao som da banda filarmónica instalada no coreto.

As autoridades religiosas só deram início às festividades, depois de benzerem a imagem de S. Pedro.

 

1890 – Bandeira de S. Pedro

 

(…) “a campanha que mais rendimento obtivesse com a sua rede de pesca ficaria com a bandeira de S. Pedro em sua posse durante um ano. O contemplado, com o apuramento de 260.145 reis, foi Serafim Fevereiro, da lancha “Senhora da Guia”. O Comércio do Porto, 30 junho, 1890.





Procissão 2008

Procissão 2008

                                                                     Procissão 2008


Procissão 2008
                                                                       Procissão 2008


                                                                             Procissão 2008




Procissão 2008



Procissão 2008



                                                                                   Procissão 2008
Procissão 2008




S. Marçal
Procissão 2008

S. Marçal
Procissão 2008


S. Marçal

Procissão 2008



Procissão 2008

N. Srª Abadia
Procissão 2008


S. Veríssimo

Procissão 2008

N. Sr.ª de Fátima
Procissão 2008

S. José
Procissão 2008


N. Sr.ª dos Navegantes
Procissão 2008


S. Pedro

Procissão 2008



Procissão 2008



                                                                    Procissão 2008

Procissão 2008










                                                                    Capela de S. Pedro







Bibliografia

Figueiras, Paulo, S. Veríssimo de Valbom,Subsídios para uma monografia, 1.ª Edição do Centro Social e Cultural da Paróquia de S. Veríssimo de Valbom, Gondomar.
















quinta-feira, 10 de abril de 2025

Pégadas de Camilo Castelo Branco em Gondomar

 Camilo Castelo Branco e Gondomar

 

 

Camilo Castelo Branco, aos 16 anos, casou com Joaquina Pereira de França, então com 14 anos, “cachopa guapa”[1] a 18 de agosto de 1841, na Igreja de S. Salvador de Ribeira de Pena. Deste casamento nasceu Rosa Castelo Branco.

Joaquina que nasceu em 23 de novembro de 1826, no lugar do Taralhão, concelho de Gondomar,  vem a falecer em 25 de setembro de 1847, com 20 anos de idade, no lugar de Friume, Ribeira de Pena, sem nada de seu.

Camilo, depois do casamento, teria ido estudar para o Porto. A filha Rosa Castelo Branco, nascida a 25 de agosto de 1843, recolhida pelos avós, faleceu em 10 de março de 1848.

Entretanto, Camilo ter-se-ia enamorado de Maria do Adro e depois vivido com Pratrícia Emília do Carmo Barros, no Porto. Desta última relação nasceu, Bernardina Amélia.

Bernardina Amélia, sem que Camilo a perfilhasse, foi criada em Iscariz e mais tarde, apoiada financeiramente por Camilo, entra no Convento de Avé Maria, no Porto, entregue aos cuidados da freira, D. Isabel Cândida Vaz Mourão, com quem Camilo se tinha relacionado, nas tertúlias do Convento.

Em 28 de dezembro de 1865, Bernardina Amélia, com 17 anos, casa na Igreja de Valbom, com António Francisco de Carvalho Guimarães, de 42 anos de idade, proprietário da Quinta do Desembargador, em Valbom, que tinha herdado da mãe, D. Ana de Sousa Loureiro.Esta tinha sido proprietária de uma padaria na Rua da Esperança. De feição liberal, costumava  proteger os presos políticos da Cadeia da Relação. Um destes presos, Dr. Francisco Marques de Oliveira, viúvo, ao sair, casou com ela em segundas núpcias, deixando-lhe, depois, a Quinta  de Valbom. Camilo não esteve presente no casamento. Em carta ao seu amigo Visconde de Ouguela confessa a sua discordância face a este enlace, dada a diferença de idades dos noivos, e ao convívio que tivera com António Francisco de Carvalho, antes de este ter ido para o Brasil, o que o levara a conhecer as suas aventuras amorosas, nas quais foi gerado um filho: António Francisco de Carvalho Júnior. De torna viagem do Brasil, António de Carvalho, volta rico ao Porto, acompanhado de uma viúva de 26 anos.

António Carvalho nascido a 30 de maio de 1823, na freguesia de S. Pedro de Miragaia, era mais velho que Camilo que nascera a 16 de março de 1825. Possuía um estabelecimento em frente ao Convento de Avé Maria, no qual terá conhecido Bernardina Amélia. .

.A atitude de Camilo para com o casal é, mais tarde, reconsiderada. Dirá, ao Visconde de Ouguela, talvez, em 1874[2]



 : "felizmente a minha filha saiu uma criatura angelical, e o marido é um excêntrico que a tem levado a viajar".

Camilo visita a filha em Valbom e escreve-lhe inúmeras cartas. Refere-se extremosamente à neta Camila Cândida, “engraçada trigueirinha”.[3]


Na verdade. Bernardina Amélia e António Carvalho, tiveram dois filhos. Camila e Camilo. Camila viveu em Valbom, passando depois a viver numa casa, ao fundo da Rua da Restauração, para assegurar mais facilmente a sua instrução. É, aí que nasce o irmão Camilo, a 23 de janeiro de 1885, tendo como padrinhos do seu batismo a irmã Camila e o avô Camilo Castelo Branco.

Camila casou no Porto com o clínico da Misericórdia, Dr. Joaquim Urbano Cardoso e Silva.

Camilo Castelo Branco de Carvalho tornou-se negociante, no Porto.

Nas cartas, Camilo lamenta que a filha viva em Valbom, com “ares do campo”, onde se “pode comer pescada às dez da noute, e dormir ao som da orchesta dos mosquitos” (...) mas também se refere ao “feliz socêgo de Valbom”. Reconciliado, chega a exclamar: ”Ai! Valbom! Que delícias te sorriem à beira do teu tanque e nas copas regorgeadas daquele bosque de verdura doirada pelos fructos!” (...) “Respiro lá melhor.”

A quinta “dos Allens”, “do Carvalho” ou “do Desembargador” vem parar às mãos de um outro Desembargador, Dr. Paulo Figueiras, por casamento com D. Maria Júlia Taborda. Hoje pertence aos seus herdeiros.

 



 [1] Alberto Pimentel, a primeira mulher de Camilo, p. 20 e segs

[2] Teófilo Braga, Camilo Castelo Branco, Esboço Biográfico, p. 54, 55. Este nome é significativo e terá tocado Camilo. Camilo do avô e Cândida da freira que a educara. O genro tornar-se-á, até, um prestimoso conselheiro de Camilo.

[3] Teófilo Braga, Camilo Castelo Branco, Esboço Biográfico, p. 54, 55.


Bibliografia:

Paulo de Passos Figueiras, S. Veríssimo de Valbom, Subsídios para uma monografia, 1ª edição do Centro Social e Cultural da Paróquia de S. Veríssio de Valbom, Gonsomar, 1998.

Serafim Gesta ( Mazola), De Gondomar a 1.ª mulher de Camilo, ed. Do autor, 1981.

Camilo de Oliveira, Monografia de Gondomar, vol III, p. 87 a 98, imprensa moderna, lda, 1934

Maria Antónia Neves Nazaré de Oliveira, Os biógrafos de Camilo. FCSH, 2010
















Quinta do Desembargador: 07.04.2025
Foto Fátima Gomes




quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Descoberta em Fânzeres, Gondomar, de Fóssil de planta rara com 310 milhões de anos.

 


Descoberta em Fânzeres, Gondomar, de Fóssil  de planta rara com 310 milhões de anos.

A Universidade de  Coimbra anunciou a descoberta de um fóssil raro, com 310 milhões de anos, identificado no Seixo, em Fânzeres, em Gondomar. Trata-se de uma nova espécie de gimnospérmica primitiva, batizada de Palaeopteridium andrenelii, descoberta pela equipa de Pedro Correia, investigador do Centro de Geociências (CGEO) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com Carlos Góis-Marques, paleobotânico da Universidade da Madeira.

Segundo Pedro Correia, a descoberta dá pistas valiosas sobre a evolução e reprodução de plantas primitivas no Período Carbónico, era, ocorrida no final da Era Paleozóica. Na década de 1940, Carlos Teixeira já tinha identificado uma Palaeopteridium andrenelii  da ordem extinta Noeggerathiales também na região carnonífera do Douro.

“A nova espécie preserva macroesporângios (estruturas reprodutoras), um dos quais ainda contém um gametófito multicelular, oferecendo novas perspetivas sobre a diversidade e paleoecologia das Noeggerathiales. Carlos Góis-Marques sublinha que fósseis deste grupo são raros na Europa e América devido aos seus habitats ecológicos específicos”.

“Esta descoberta não só amplia o conhecimento sobre a diversidade deste grupo enigmático, como reforça a singularidade do registo paleobotânico do Carbónico português, que apresenta um elevado grau de endemismo com importância internacional”, afirma Góis-Marques.

Esta descoberta foi publicada na conceituada revista científica Geological Magazine 





Placa I. Holótipo Mgutad-1121 de Palaeopteridium andrenii sp. Nov. Dos afloramentos da Ervosa (Upper Westphalian D/Upper Asturian, Middle Pennsylvanian) da região de D Miguel, Seixo (Fânzeres), Gondomar, noroeste de Portugal. 1-Vista geral do holótipo (as setas brancas indicam um pecíolo muito desenvolvido, um possível penúltimo rachis). 2–3 - Aumento de caixas retangulares na Figura 1, mostrando detalhes da folhagem (setas brancas indicam a ligação peciolada dos pinos em uma rachis final). 4 – Aumento da caixa retangular na Figura 1, exibindo um macrosporrangio "noeggerathialan" putativo com um provável micropírico (destacado no círculo branco tracejado). 5 - Macrosporrangian, putativo "noeggerathialan", exibindo um gametófito multicelular que se estende da parede de esporos rompidos (setas brancas) (contrapartida holótipo; ver II, 2b).


https://bit.ly/3PJBkLk

https://bit.ly/42pRcdQ

https://bit.ly/3E7uRrh

https://bit.ly/3E7uRrh

 

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

1.ª Guerra Mundial em Gondomar

 

1ª Guerra Mundial em Gondomar





Como se viveu a 1ª guerra em Gondomar?

Foto de Guedes de Oliveira, com farda e máscara de combatente, na casa da Levada, Rio Tinto, cocumento da família Guedes de Oliveira, inserido na Monografia de Rio Tinto., p. 148.

     Os soldados portugueses além de defenderam o território nacional, com o arquipélago dos Açores e Madeira incluído,  estiveram presentes em Angola, em 1914-1915; em Moçambique, entre 1914 e 1918 e em França, em 1917 e 1918. Houve combates em todas as frentes, mas o CEP só participou numa batalha, a Batalha de La Lys, na Flandres, no dia 9 de Abril de 1918.
    As forças portuguesas  partiram para a guerra em situação muito deficitária, sem instrução suficiente, armamento e equipamento muito desatualizado.
    Apesar de tudo, pode-se dizer que o CEP, lutando heróicamente, cumpriu os seus objetivos: Portugal  conservou os territórios coloniais e teve assento na Conferência de Paz.

O sentimento de guerra em Gondomar

   De início, em Gondomar, como certamente em muitos pontos do país, predominava a opinião de que a guerra não tinha muito a ver com Portugal. Só começou a preocupar as pessoas quando as colónias ultramarinas foram atacadas pelos beligerantes,
  A partir do momento que Portugal decide participar na guerra, a situação muda.  Sente-se a necessidade de proteger os soldados que faziam parte do Corpo expedicionário português (CEP).
   Em 1915, com o sentimento de guerra mais entranhado, o Clube Gondomarense organiza um espetáculo a favor do CEP e descerra o retrato de Jeremias Gaudêncio das Neves, expedicionário em África e sócio do Clube. O ato foi acompanhado pelo canto do Hino do Clube e pela orquestra de José Moura. Fez-se, também, teatro infantil.
  Neste mesmo ano, o Grupo de Mocidade Valvoense, lamenta-se pelo facto do Carnaval ser insípido, “apenas uns grotescos e ridículos mascarados que faziam os transeuntes sorrir de desdém e nojo”. Contra o costume, a Escola Dramática e Musical Valvoense decide não promover festas carnavalescas “associando-se assim à dor que domina as consciências do Universo”. [1] Por seu lado, o Clube Gondomarense acha que os lucros da realização de uma festa podem reverter em benefício dos  soldados portugueses e para esse fim promove a sua realização.
   Organiza-se, então, uma cruzada para recolha de fundos.[2] Sobretudo mães e namoradas temem e expressam, de forma mais evidente, esse sentimento de receio, dor e saudade.
   Oficialmente, a Câmara Municipal de Gondomar, em vinte e sete de abril de 1916, “colocou-se ao lado do Governo, que, como representante da Nação, aceitou a declaração alemã de hostilidade” [3]
  Neste mesmo ano, há grande adesão  à Cruzada das Mulheres Portuguesas, presidida por Elzira Dantas Machado [4] a fim de dar assistência aos soldados portugueses que estavam a combater na guerra e aos seus familiares.
   Por esta altura, a Junta de Paróquia de S. Cosme lamentando as vítimas portuguesas que tombavam em África, devido à guerra, aprova uma subscrição para socorrer as vítimas deste conflito.
  A pouco e pouco o sentimento de guerra vai dominando e em 1917, os sócios expedicionários do Clube Gondomarense são isentos de cotas. Esta associação cancela, mesmo, um espetáculo “devido à tristeza reinante”.[5]   Em 1917, um espetáculo, do Grupo Dramático e Recreio da Mocidade Valboense, com alguns elementos “a servir a Pátria”, com suporte orquestral  e representado na Escola Dramática é denominado “Alemães e Franceses” e “baseado em comoventes episódios da guerra actual”. [6]
   Em 1918, depois da batalha de La Lys, um fado que lamenta o infortúnio dos soldados portugueses, torna-se popular:

9 de Abril, meu amor
Triste data em que eu ditei,
Quando eu em ti pensei
Ó minha adorada flor.
São pecados da minha dor
E fatalidades da vida.
Ao escrever-te estas linhas.
Eu só choro, meu coração
Por serem palavras tão minhas
Só as letras as não são.
Olha leva à minha mãe
Muitos beijos e carícias
E diz que de mim tens notícias
Que estou vivo e estou bem
Minhas pobres irmãzinhas
Que inocentes, coitadinhas
Que só sentem, como tu sentes,
Diz-lhes que não és tu quem mentes
Porque as palavras são minhas
Fui ferido e perdi um braço
Numa chuva de metralha
Arranja outro namorado
Que eu sou um homem mutilado
E futuro algum te oferece.



Que consequências resultaram?   

    Se no total, Portugal perdeu 7.760 homens e contou com 16.000 feridos e mais de 13.000 prisioneiros e desaparecidos, em Gondomar, Camilo de Oliveira refere o nome de sete soldados que morreram em França e um em Moçambique. Os seus corpos ficaram por essas paragens, o que era comum.
   Com o incentivo da Liga dos Combatentes da Grande Guerra (LCGG), há algum  empenho de diversas entidades na criação de espaços nos cemitérios locais destinados aos combatentes da 1ª Guerra capazes de afirmarem a sua coragem e prestarem, desta forma, o devido agradecimento pelo sacrifico que fizeram pelo seu país. Forma-se, mesmo, um grupo nacional, o CPGG que, depois de conseguir em 1921 a exumação e trasladação  de  dois Soldados Desconhecidos, um proveniente de África, outro da Flandres ( as duas frentes de combate onde houve maior intervenção portuguesa), para o Mosteiro de Santa Maria Vitória, na Batalha, se bate pela  consagração de novos rituais e símbolos, procurando organizar e celebrar regularmente,  o ‘9 de Abril’ e o ’11 de Novembro’. Este grupo, com a colaboração da Liga dos Combatentes da Grande Guerra,  sensibiliza, também, as entidades locais para a criação de espaços nos cemitérios exclusivamente destinados aos homens que pereceram em defesa da Pátria.




 Desta forma, no dia vinte e um de agosto de 1927 foram inaugurados, nos cemitérios de Valbom, S. Cosme, Fânzeres e Rio Tinto, os canteiros a fim de recolher os restos mortais dos soldados que pereceram durante a 1ª Guerra Mundial .[7] Hoje ainda lá figuram embora, alguns com modificações sensíveis.

Talhão de Valbom - foto de Maria de Fátima Gomes




Memorial S. Cosme - foto de Vítor Neves


Memorial  de Fânzeres - Foto de Fátima Gomes


Ramo da Liga dos Combatentes colocado em todos os memoriais em 1 de novembro de 2014, cumprindo o ritual que vem da década de 1920.

 Foto de Fátima Gomes









Memorial  de Rio Tinto - Fotos de Fátima Gomes e Vítor Neves

Memorial moderno construído em substituição do primitivo que ficava no terreno onde está hoje a capela mortuária.Fica contíguo ao espaço destinado aos combatentes da guerra colonial.



Memorial de S. Pedro da Cova - Foto Vítor Neves





Perpétua a lembrar a saudades dos que se foram.





                                                    Memorial  de S. Pedro da Cova - Foto de Fátima Gomes


Crise económica e social

     A crise económica perpassa por todo este período, particularmente no que se segue à Primeira Guerra Mundial. Na verdade, quer os jornais, quer as atas da Câmara fazem referência à falta de géneros.
Até ao fim de 1915, vive-se dos stocks de antes da guerra. As primeiras falhas iniciam-se em 1916. Os preços aumentam, já que a mão-de-obra é menor e mais cara, as matérias-primas encarecem e por sua vez arrastam os transportes.
Em 1915, a Associação dos Operários Marceneiros de Valbom decide não comemorar o 1º de Maio devido à “enorme crise que assoberba as classes trabalhadoras.”[8]
O povo sente cada vez mais a carestia da vida. Em 1917, há um comício na Associação de Classe dos Operários Marceneiros de Valbom para eleger uma comissão com elementos de diversas profissões capaz de pedir, junto do Administrador do Concelho, o cumprimento do decreto que proibia que o milho ultrapassasse o preço de 1$20 os 20 litros. No entanto, no dia aprazado, o grupo foi primeiro recebido por uma força de cavalaria que gerou uma sessão de pranchadas e baionetas e depois pelo Administrador que declarou que tal feito caberia a uma comissão prestes a constituir-se. [9]
As iniciativas das juntas sucedem-se como é o caso em Valbom do ofício de vinte e um de junho de 1918, que solicita ao presidente da Comissão de Subsistência que seja fornecido à freguesia, milho e centeio. [10] No mesmo ano, em S. Cosme, discute-se o regulamento dos celeiros municipais que pretendiam fazer face à crise.
Outra tentativa reside na venda de milho a baixo preço, em Valbom. O Pároco de Rio Tinto organiza, mesmo, uma Caixa de Socorros, tendente a acabar com a mendicidade
As moedas são entesouradas porque o valor do seu metal ultrapassa o valor facial, o que leva  várias instituições e até autarquias a emitir cédulas para serem usadas em pequenas transações.



                                                     Documento pessoal
     No entanto, as lutas mais aguerridas no concelho de Gondomar, acontecem em S. Pedro da Cova, dado as condições de trabalho desumano que lá existiam, que incluía o trabalho descriminado de menores e mulheres. Com salários baixos, a alimentação dependia do maior ou menor crédito que se tinha nas lojas. Podia constar de broa, legumes, peixe e por vezes carne. Com o objetivo de defender os interesses dos operários mineiros, cria-se em 1914, a Associação de Classe de Operários Mineiros e Anexos. Em 1915, ocorre nova greve mineira em S. Pedro da Cova, pela melhoria dos salários.
     A opinião pública republicana estranha que a ” autoridade Administrativa se colocasse abertamente ao lado da empresa exploradora”. O Administrador manda encerrar a Associação de Classe e prender toda a Comissão delegada, “trazendo para a República, o critério monárquico de fazer política”.  Um comício de trabalhadores é invadido pela força das autoridades e são presos, no Aljube, os principais oradores.
  Do mesmo modo, um comício tentado em Valbom, é impedido pela força das armas.[11]
  Nesta altura, a Associação dos Operários Marceneiros de Valbom decide  não comemorar o 1º de Maio devido à “enorme crise que assoberba as classes trabalhadoras[12] Em 24 de Julho de 1916, funda-se o Sindicato Agrícola de S. Cosme de Gondomar
     Em 1917, os mineiros de S. Pedro da Cova empreendem mais uma greve, devido aos baixos salários que auferiam e à carestia de vida, sobretudo do pão. Esta greve, que se arrasta por várias semanas é duramente reprimida. Vários mineiros são mortos.[13] O patronato tenta arrastar alguns mineiros a furar a greve acenando-lhes com prémios pecuniários chorudos e alicia-os a lutarem contra os seus companheiros de trabalho, gerando-se, desta forma, enorme confusão. As forças armadas intervêm e não poupam nem mulheres nem crianças que são massacradas.
     Em 1918, a Junta de Freguesia de S. Cosme oficia à Câmara de Gondomar a solicitar que seja suspenso o imposto sobre as mobílias que passam as barreiras da cidade do Porto devido à crise de trabalho dos marceneiros e ao elevado preço das madeiras.[14]

DOENÇA
    Em1915, o médico de Medas pede soro anti-diftérico para fazer face à doença que afeta essa região.[15]
    Em 1918, grassa na freguesia de S. Cosme, mas também em todo o concelho, uma epidemia de tifo exantemático.[16] Chegou a constituir-se um cordão humano pela Fonte da Saúde, para impedir a circulação da população entre Porto e Valongo.
   No mesmo ano desenvolve-se, a gripe infeciosa[17] ou gripe pneumónica. Pensa-se mesmo em ocupar a Vila Leopoldina para internamento hospitalar, decisão que preocupa a população, já que esta casa se localizava no então centro cívico de Gondomar. 
   No que respeita a doenças respiratórias e músculo esqueléticas eram, então, procuradas as termas. Encontramos referência à estada de Novais da Cunha nas termas de Entre-os-Rios.[18] As de Caldelas, [19]também aparecem referidas. Nas Atas da Junta de S. Pedro da Cova, há registo de requerimento de certificados de pobreza para cura nas termas, no Instituto Pasteur, no Hospital Joaquim Urbano, o que pode evidenciar doenças ligadas a parasitas e à tuberculose. Em todas as freguesias, são inúmeros os pedidos de atestados para cura no Hospital de Santo António.
    É que em Gondomar não há asilos, parteiras municipais, dispensários, creches, assistência infantil ou pavilhão para tuberculosos.
    Projeta-se a construção de um hospital e para tal fim, o Clube Gondomarense chega a promover um espectáculo para angariação de fundos, mas o projeto é abandonado.

Conclusão
    A primeira guerra foi bem sentida em Gondomar, sobretudo a nível das suas consequências económicas  e  certamente junto dos familiares dos que participaram no CEP. O sentimento de possibilidade de perda que as condições deficitárias dos equipamentos do CEP  agravavam, eram sentidas com temor, sobretudo pelas mulheres mais chegadas aos que participaram na primeira guerra, mas também pela população em geral.  


BIBLIOGRAFIA:

FONTES MANUSCRITAS:

ARQUIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DE GONDOMAR :
Livro de Registo das Actas das Sessões de Vereação da Câmara de Gondomar , Livro nº 13 e 14.
ARQUIVO DA JUNTA DE S. COSME DE GONDOMAR: A.J.S.G. –  Actas da Junta da Paróquia de S. Cosme de Gondomar, Livro nº 3; 4; 5 e 6.
ARQUIVO DA JUNTA DE S. PEDRO DA COVA :
Actas da Junta da Paróquia da freguesias de S. Pedro da Cova – Livro nº 5; 6; 7.
ARQUIVO DA JUNTA DE S. VERÍSSIMO DE VALBOM :
      Actas da Junta da Paróquia da freguesias de Valbom – Livro nº 4; 5; 6.
Diário Manuscrito de António Fereira da Fonseca, S. Pedro da Cova.

FONTES IMPRESSAS:

BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DO PORTO
      Jornal de Notícias – várias datas
      Periódicos gondomarenses:  
A Voz de Gondomar, nº 3
Terra Portuguesa
O Alho .

FIGUEIREDO, Silvino, Clube Gondomarense – Resumo da História do Clube – 1908 a 1958 – 1ª , ed. C. Gondomarense
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ROSAS, Fernando, ROLLO, Maria Fernanda, História da primeira República Portuguesa, Tinta da China, Lisboa, 2009


FONTES ORAIS:
Maria Nogueira de Queiroz, 1980
José Martins Gomes, 1980
Serafim Martins Gomes, 1980




[1] A. B. P. M. P.  O Alho, nº 17, 27.05.1917, p. 3
[2] A. B. M. P. O Alho, 21.02.1915, p. 1
[3] OLIVEIRA; Camilo de, O Concelho de Gondomar, Apontamentos Monográficos, vol IV, p. 256
[4] Cruzada fundada em 1916, pela esposa de Bernardino Machado
[5] FIGUEIREDO, Silvino, Clube Gondomarense – Resumo da História do Clube – 1908 a 1958 – 1ª , ed. C. Gondomarense
[6]  A. B. M. P. O Alho nº 16, 20 .01.1917
[7]  OLIVEIRA; Camilo de,O Concelho de Gondomar, Apontamentos Monográficos, vol IV, p. 258
[8] B.P.M.P., Terra Portuguesa, nº 1, 21 de Fevereiro de 1915, p. 2
[9] B.P.M.P., O Alho, nº 2, 16.09.1917
[10] A. J.F. V.,  Acta da Junta da paróquia Republicana de Valbom de21.04.1918
[11] A. B. P. M. P Terra Portuguesa, nº 23, 28 Novembro de 1915
[12] A. B. P. M. P Terra Portuguesa, nº 1, 21 de Fevereiro de 1915, p. 2
[13] A. B.M.P., O Alho, nº 8, 01.09.1917, p. 1 e nº 10, 30.09.1917, p. 1/2
[14]  A. J. F. S. C. , Acta da Junta da Paróquia de 21.04.1918
[15] A. J. F. S. C. Actas da Junta da Paroquia de S. Cosme, 22 de Dezembro de 1915
[16] A. J. F. V. Actas da Junta da Paroquia de Valbom, 5 de Maio de 1918
[17] A. J. F. S. C. Actas da Junta da Paroquia de S. Cosme, 29 de Setembro de 1918
[18] A.B.P.M. P., O Progresso de Gondomar, nº 20, 28.08.1910, p.2
[19] [19] A.B.P.M. P, A Voz de Gondomar, nº 3, 20.09.1925, p. 3