O complexo das Minas
de Carvão de S. Pedro da Cova foi a mais importante exploração da
bacia carbonífera do Douro e uma das mais antigas do país, chegando a possuir 14 minas.
Tudo começou quando Manuel Alves de Brito, em 1795, no
lugar do Enfeitador, em Ervedosa pôs a descoberto o carvão e iniciou a sua
exploração, mediante licença governamental, na propriedade do padre Manuel
Dias.
Mais tarde, a exploração do carvão é entregue a um
frade e ao Dr. José Jacinto que abriram o poço Carlota.
Em 1802, é nomeado intendente geral das minas, José
Bonifácio de Andrade e Silva que, em 1804 ou 1805 obteve o reconhecimento da
bacia carbonífera de S. Pedro da Cova, na extensão de um quilómetro , definida
em duas camadas de carvão, a da Devesa, próxima ao muro e a da Poço Alto,
próximo ao teto, desde Ervedosa até ao Passal. Daqui resultou a abertura de dois
campos de lavra: um ao norte, entre Vila Verde e Ervedosa e outro ao sul, entre
a Devesa e Passal. A direção da primeira
lavra foi entregue ao mestre mineiro
alemão, João Henrique Gulherme Reese e a da segunda, a Felner, que pouco depois,
a deixou, ficando Reese encarregado de toda a exploração.
Nesta altura, é instalado “junto à mina um forno de cal
contínuo e outro de tijolo, nos quaes se empregava parte do combustível, com
especialidade o carvão miudo, sendo exportado para Lisboa o de primeira
qualidade” ( Monteiro e Barata:1889,p.307)
Entre os anos de 1812 a 1820, Reeze abriu o poço Devesa.
Em todos os trabalhos, a água de infiltração acumulava-se
em grande abundância, sendo extraída por bombas de madeira, movidas a braço,
sendo muito difícil a extração a grande profundidade.
Nesta altura, os trabalhos até
cerca de 100 metros de profundidade, eram irregulares e a produção pouco
abundante.
A exploração é feita pelo Estado até 1825. Nesta data, o
Estado arrenda, por dez mil reis anuais, a lavra das minas de S. Pedro da Cova
a uma companhia de Lisboa, pelo período de vinte anos. Esta Companhia continuou os
trabalhos sem interrupção , entregando provisoriamente a sua direção a um
mineiro chamado Ferreira, enquanto não chegava um mestre mineiro inglês contratado.
No entanto, a estada do mestre mineiro inglês é breve e a lavra acaba por ser entregue a
António dos Santos.
Os processos de exploração evoluem muito lentamente, mas
a administração vai-se regularizando.
Então, a extração faz-se através de uma longa fila de
homens, que passava de mão em mão uns cubos de madeira com o carvão, e a cerca
de sessenta metros da boca do poço, é lançado em vagonetas, tiradas até à superfície
por quatro bois que fazem girar os malacates. O escoamento das águas é feito à mão, com a
ajuda de bombas aspirantes.(Camilo de Oliveira. 1972, vol. I, p. 213)
Nesta década, abrem-se vários poços: em 1830, o Rebelo e
em 1835, o poço Silva, sob a direção de um outro mineiro, José Moreira; em
1837, sob a direção de um novo mineiro, o poço Lodi e mais tarde, o poço
Bimbarra.
De 1840 a 45, abre-se novo poço, o Farrobo, sob a direção
de José Pezerat, então engenheiro da Companhia.
Em 1847, a Companhia contrata Casimir Pierre, mineiro prático, encarregado
da direção de trabalhos.
Anos mais tarde, a Companhia toma a seu serviço um
engenheiro de minas, Scmimitz que vai retomar trabalhos antigos e fazer novas
explorações.
No entanto, a necessidade de uma galeria de esgoto
compromete o rendimento do trabalho.
Em 1849, as minas de S. Pedro da Cova são concedidas, temporariamente,
ao Conde de Farrobo, o qual obtem uma licença definitiva, em 1854 que por
pagamento de dívidas passam para D.
Cândida Líbia Pimenta e seu marido, Manuel Joaquim Pimenta, que nunca a
exploraram por conta própria.
Até 1852, a exploração foi muito irregular e pouco
abundante. O carvão, nesta altura, era vendido aos carreteiros em “Chomage”
(tempo passado sem trabalhar) ( Camilo
de Oliveira: 1972, vol. I, p.264)
A partir desta época, a lavra ganha regularidade, tornando-se
a atividade um pouco mais produtiva.
Em 1890, executam-se alguns trabalhos de melhoramento da
exploração da mina e processa-se a exploração em camadas mais profundas. O “esgoto
e extração continua a ser feito pelos sistemas já atrás descritos, “ mais
primitivos e irregulares que conhecemos, sendo para lamentar que uma mina,
auferindo tão bons resultados, continue a seguir uma rotina vergonhosa” Camilo
de Oliveira:1972, vol I, p. 265)
Mais tarde, o alvará é concedido a Bento Rodrigues que administra
a exploração com dinamismo, até 1900. Passam para os antigos
proprietários de Monte Alto e Ervedosa, Silvas & Rocha, entre 1910 e 1911.
Sucede-lhe uma sociedade constituída no
Porto que integrava o banqueiro José Augusto Dias.
Este é um período conturbado, já que as minas de S. Pedro
da Cova lutam com a falta de rendimento pelo facto do transporte do carvão
até ao Porto ser muito oneroso, dado o estado intransitável das estradas.
É o capitão Sarmento Pimentel quem dirige a mina, nesta
altura, que, todavia, passa por algumas dificuldades de liquidez e falta de
capitais. A partir de 1920, com nova administração, a mina é objeto de alguns
benefícios de estrutura, mas mesmo assim, continua com tecnologia muito pouco
atualizada. Evolui a nível social, construindo uma escola e uma farmácia para uso
dos operários. Atribui pensões aos mais idosos.
Nas minas, constroem-se diversos poços com a profundidade
de 140 m e a a extensão de 320 m.
Em 1921 abre-se o Poço de S. Vicente que atinge 157 metros de profundidade e que em 1935, é aprofundado,
atingindo a altura de 13 pisos,
construindo-se, então, a Torre-Cavalete que se ergue acima do poço com a altura
de 6 andares. Este surge da necessidade de posicionar os cabos de suspensão das
“jaulas” (elevadores) ao longo da vertical dos poços, com a função de
transportar para o exterior o carvão desmontado nas galerias subterrâneas pelos
mineiros.
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1921
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1921
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
No Monte Aventino, as cestas eram desengatadas
automaticamente e passavam a ser empurradas à mão suspensas de carris de aço.
As vazias eram levadas para um local
onde periodicamente o pessoal as engatava no cabo-trator que as puxava de
volta para a Mina.
As cestas eram levadas para o chamado
"Circo", local redondo onde o carvão era amontoado.
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1921
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
Daí o carvão era transportado em vagonetas para as
carregadeiras, donde era
despejado, diretamente, nos carros de bois, zorras ou
camionetas que o
distribuíam pelos consumidores.
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
O carvão era deslocado no terreiro por meio de um
"Dumper" e era carregado nas camionetas por uma pá-carregadora
mecânica.
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1940
A evolução dos transportes em S. Pedro da Cova começou
com a necessidade de alterar o sistema de transporte do carvão que era feito em
carros de bois e camiões, quer do Cimo da Serra, quer da Bela Vista.
Fonte: Conhecer GondomarO movimento Republicano de 5 de Outubro precipitou os factos. Pedia-se o elétrico para S. Cosme fazendo o percurso
pela Circunvalação, Rua do Falcão, Valbom - via Fonte Pedrinha e centro de S.
Cosme.
No entanto, de 1915 a 1917, pensa-se em construir carris, não
para a circulação do elétrico, mas para a circulação de zorras através de
Fânzeres. A linha passava por S. Caetano, Santa Eulália e Passal de Baixo que
fornecia o carvão para a central.
As Zorras não transportavam só carvão, mas também
operários doentes e feridos ao Hospital e postos das Companhias de Seguros.
O Elétrico só ia até Fânzeres. Só em 1924, depois de muitos pedidos é que começa a
funcionar o elétrico para S. Pedro da Cova como testemunha o Jornal " A
Nossa Terra" de Valbom de 10.2.1924.
A partir de 1946, passa a haver duas carreiras com
partida da Praça, obedecendo aos seguintes horários.
Fonte: Conhecer Gondomarimportância das minas de S.
Pedro da Cova na economia nacional
O carvão de pedra só se afirma na indústria nacional com o advento da máquina a vapor que dele
necessita para produzir energia. Assim,
nos finais do século XVII, o carvão de pedra começa a substituir as
lenhas e carvão vegetal, nas forjas e ferrarias ( Rocha:1997, p.8)
A questão da exploração do carvão nacional na diminuição
do déficit nacional é transversal ao século XIX e XX.
Tendo a indústria mineira o seu arranque no século XIX
suscitou todo um conjunto de legislação capaz de acompanhar a sua evolução. Esta
indústria está sempre dependente de estudos geológicos do subsolo à capacidade
de investimento, das técnicas e mão de obra às questões de mercado, da
facilidade de transporte e da legislação produzida. (( Rocha:1997, p.13)
Desde 1757 que as exlorações por conta do Estado tinham
sido abandonadas e por conta dos particulares nada se lavrava (Júnior:1921,p. 6) Em 1764, pelo Alvará de 23
de outubro “foi concedida por quarenta anos a administração das minas a quem as
abrisse por sua conta, pagando à Real fazenda o quinto do carvão, ouro, cobre,
prata, chumbo, estanho, antimónio e outros metais” . (Diário das sessões de 13
de março de 1939, 2º suplemento ao nº45. Câmara Corporativa. Parecer sôbre a
proposta de Lei nº 50.)
Com a criação da Academia Real das Ciências de Lisboa, as
publicações sobre o desenvolvimento mineiro proliferam. D. Rodrigo de Sousa Coutinho e o Dr. José
Bonifácio de Andrade criam a Intendência Geral das Minas do reino, em 1801, que
tinha como objetivo o desenvolvimento mineiro.
Em 1806, os trabalhos são retomados nas minas de S. Pedro
da Cova com o recrutamento de mestres fundidores, refinadores e mineiros alemães. Estes trabalhos prosseguem, com a
partida da família Real para o Brasil, em 1807, quando outros complexos cessam
a sua laboração, até 1812, embora com
intervalos, sustentando com os seus lucros outros estabelecimentos. Nesta
altura, o facto dos franceses roubarem o cofre das minas no Porto representou
um duro golpe.
Quando em 1825, pelo alvará nº 126 de 4 de julho, as
minas de carvão de pedra são arrendadas a uma companhia de quatro negociantes,
por um período de vinte anos, por dez contos de réis anuais que viria a ser
ruinoso, cabe à mina de S. Pedro da Cova, denominada Mina de Carvão de Pedra da
Cidade do Porto, por anterior alvará de
24 de abril de 1821, custear, com o seu rendimento, as despesas das outras
minas. Diz a Portaria da Regência de 24 de abril de 1821 ( Joyce:1935, p.78) “E por quanto o rendimento da Mina de Carvão
de Pedra da Cidade do Porto, se julga sufficiente para suprir a despeza das
outras Minas”
Debatendo a questão do melhor tipo de de propriedade das
minas, em 1824, o Intendente, Barão d´ Eschwege defende a fiscalização pelo
governo para que não acontecesse o mesmo que se verificava em S. Pedro da Cova,
que, ao serem arrendadas, os trabalhos de lavra faziam-se à revelia das normas , prejudicando de todas as formas o Estado.
A questão Estado-empresa particular é uma discussão
constante durante o liberalismo. Questiona-se, então: “se as minas por conta do
Estado não deram os resultados esperados, por que motivo as minas de S. Pedro
da Cova “renderam para o estado 250 000$000 réis, arrendadas a uma
empresa, que as trabalhava com todo o rigor scientífico?” (Decreto
com força de lei de 31 de dezembro de 1852, sobre pesquiza, exploração,
concessão e inspegção das Minas. B.M.O.P.C.I (nov.1857)p. 157
No entanto, e em 1836, a Intendência Geral das Minas
encerra, pelo decreto de 1836 que no seu preâmbulo justifica: “ Este
ramo de Industria tem entre nós dechaido progressivamente a ponto de achar-se
quase extincto. É fácil descobrir que a origem de tamanho mal procede
principalmente de haverem sido administradas as minas por conta da Fazenda
Pública. Tal foi o desleixo e infidelidade dessa Administração, que desde o
anno de 1802 até ao de 1835 perdeu o Estado a somma de cento e quarenta e dous
contos novecentos cincoenta e nove mil trezentos sessenta e um réis, sem contar
o custo dos edifícios, e utensílios, nem os ordenados dos Empregados da
extincta Intendencia; e isto sem que tenhamos em estado de laboração outras
Minas que as de carvão de pedra de S. Pedro da Cova, e estas mesmo porque em
virtude do Alvará de Condições de 4 de junho de 1825 foram entregues a uma
Companhia por tempo de vinte annos”
Já o decreto 13 de
agosto de 1832, que no seu artigo 17º reconhece: “ As Minas de ouro, e
prata e de qualquer outro Mineral, são inherentes á Propriedade, e fazem parte
dela, salvas as contribuições que se acharem impostas sobre os objetos
extrahidos das mesmas”
Pelo decreto lei de 25 de novembro de 1836, autorizam-se
as explorações de minas por particulares, o que parece não alterar o panorama
da produtividade.
No entanto foi só no período da Regeneração que houve um
efetivo desenvolvimento mineiro. O governo fontista atrai, através de
legislação o maior número de concorrentes à exploração mineira e cria
incentivos como os que são legislados para S. Pedro da Cova e Buarcos, que pela
Lei de 1850 foram “isentos de impostos” e sujeitos “à maior renda que se
obtiver por meio de arrematação em hasta pública, e por prazos nunca maiores de
vinte annos”
Em 1917, na sessão do Conselho de Ministros de dois de
maio, coloca-se a questão da necessidade de poupar carvão, “como
se faz no estrangeiro”.
Este é um problema acutilante, já que como se salienta na
sessão de 12 do mesmo mês, Portugal importa, cada mês, 100 000 toneladas de
carvão de Inglaterra. (Oliveira Marques, Terceiro Governo de Afonso Costa)
Neste ano, legisla-se que “o direito de propriedade
das minas pertence ao Estado, mas este pode alienar o direito ao aproveitamento
dos depósitos ou jazigos...” Pela lei de 1917, “os concessionários podem
perder o direito às concessões se não cumprissem com os deveres e encargos estabelecidos no
ato da concessão.” ( Rocha:1997, p. 106)
No entanto, outra questão a abordar é a da concorrência
do carvão nacional com o estrangeiro, sendo de salentar, nesta questão, o
Decreto nº 14009, de 3 de julho de 1927 que torna obrigatório o consumo de
carvões nacionais nas indústrias.
Já então, algumas fábricas utilizavam o carvão de S.
Pedro da Cova, numa proporção de 2.000g de carvão de S. Pedro da Cova, para
1000g de carvão inglês ou noutros casos, 1500 g de carvão nacional para 1000 de
carvão inglês, o que se tornava mais rentável do que a única utilização do
carvão inglês.
Em 1927, utilizavam o carvão de S. Pedro da Cova, as
seguintes fábricas:
A Invencível, Limitada, PortoLda, Albergaria-a-Velha
Companhia Carris de ferro do Porto,Porto (utilizavam
exclusivamente o carvão de S. Pedro da Cova, desde cerca de dez anos antes)
Empresa Industrial de Chapelaris, Lda, S. João da Madeira
Fábrica de Guilherme & João Graham & Ca, Porto
Fábrica “Luzostela” – Ferreira &Irmão, Suc.res,
Aveiro
Fábrica Mecânica de Chapéus, Henrique Palamares, Cunha,
Lda, S. João da Madeira
Fábrica de Branqueação e Acabamentos, Lda, Porto
Fábrica de Fiação e Tecidos de Santo Tirso, Lda, Santo
Tirso (consomem carvão de S. Pedro da Cova, desde 1916)
Fábrica de Fiação e Tecidos do Arquinho, A.J.P.Lima,
Guimarâes
Fábrica de Fiação e Tecidos Rio Vizela, Lda, Vizela
Fábrica do Bugio, José Florêncio Soares & Ca.
Suc.res, Fafe.
Reconhecendo a importância do setor mineiro no desenvolvimento
económico, o Decreto nº29 725 de 28
de junho de 1939, defende que o Estado deve “tomar as medidas
necessárias para estimular e até forçar os particulares a não manterem
inaproveitadas riquezas que oferecem possibilidades de trabalho para uma
população”.
No entanto, a produção de carvão nacional coincide com os
conflitos armados, nomeadamente com o período da 1ª e 2ª Guerra Mundial
(1914-18 e 1939-45) e com o da Guerra da Coreia (1951-1952).
Embora a 1ª Guerra determinasse uma quebra de exportação
para os países para os quais tradicionalmente era exportado o carvão, o valor
bruto do mineiro exportado compensava as dificuldades de colocação.
Por outro lado, o facto da marinha mercante, transportadora
do minério ser requisitada pelos países beligerantes, gerava dificuldades de
transporte.
O ano de 1915, é particularmente frutífero nos valores
conseguidos na exportação de carvão, o que é conseguido, principalmente, com o
desenvolvimento das minas de S. Pedro da Cova (Boletim das Minas de 1915)
Por outro lado, as dificuldades de transporte do carvão
estrangeiro fomentarão o nacional.
As fragilidades de rentabilidade estarão relacionadas com
a falta de investimento, debilidade técnica e a busca de lucro imediato.
Pode-se, enfim, afirmar que a importância do carvão
português, em geral, e do de S. Pedro da Cova, em particular, prende-se com a
conjuntura do Ultimatum, por razões nacionalistas que levavam a recusar o
carvão inglês e com a da 1ª Guerra
Mundial e numa segunda fase, com o desenvolvimento industrial português.
Fonte: Boletim
do M.O.P.C.I. e Boletim de Minas.
Como vemos no gráfico, os cavões nacionais, incluindo
nestes o Carvão das Minas de S. Pedro da Cova assumiram u papel relevante a
partir da década de 1950.
Fonte: Inquérito
Industrial de 1890; Anuario Estatístico Port; M. R. Júnior e Boletins de Minas Rocha:1997,
p.212)
Como vemos no gráfico, os carvões nacionais, incluindo
nestes o Carvão das Minas de S. Pedro da Cova assumiram um papel relevante a
partir da década de 1950. Com efeito os plano de fomento industrial do Estado
Novo andaram a par com um certo protecionismo dos carvões nacionais. No
entanto, já a partir de 1932, são tomadas medidas que possibilitam o
aproveitamento energético do carvão de S. Pedro da Cova na Central Termoelétrica
da Tapada do Outeiro.. Mais tarde, em
1954, a Empresa Termoelétrica Portuguesa utiliza exclusivamente carvão destas
minas.
Se o carvão tem a sua época dourada em meados do século
vinte, a partir daí, vai sendo destronado pela energia hidroelétrica e petróleo.
Passados os períodos de maior dificuldade de obtenção do
carvão, apenas o de S. Pedro da Cova se consegue afirmar.
Fomento do Carvão
“O
bom carvão de S. Pedro da Cova é negro, brilhante, de reflexo bronzeado,
pesado, compacto, ... duro e seco; arde
com chama curta azulada, e desenvolve um cheiro fraco de acido sulfuroso,
devido a uma pequena quantidade de pyrite que contem interposta ... e é
portanto um carvão mui secco, quai privado de materiaes volateis”.
Ribeiro: p. 220)
Fonte. Carlos Ribeiro
Na verdade, a
cidade do Porto é o mercado preferencial. Com efeito,
“Na cidade do Porto, onde he geral o uso deste carvão
desde vinte e tantos anos a esta parte, as casas abastadas servem-se de Fogões
de ferro construídos de forma, que huma só Fornalha no centro communica o fogo
necessário para cozinhar as diversas iguarias sobre a mesma fornalha e
superfície do Fogão; e para aquecer, além disso, hum, ou dous Fornos, e huma,
ou duas Estufas, que se fazem aos lados debaixo da superfície dos Fogões: os
Fprnos servem para cozinhar assados, e massas; e as Estufas para conservar em
conveniente grao de calor as iguarias, que se vão cozinhando(...) Neste género,
e para uso do referido Carvão nada iguala os Fogões de ferro fundido. (...) Finalmente he muito facil, e economico
arranjar, e accomodar ao uso deste Carvão ás Fornalhas, e Fogueiras, em que
ordinariamente cozinhão as familias menos abastadas, se para esse fim se attender
ás recomendações. “(...) (Instruções
sobre as qualidades, e prestimo do carvão de pedra das minas de S. Pedro da
Cova, Lisboa: Na Impessão Régia, Anno 1829. P.4)
Todavia a angariação de clientes fora do Porto, também,
era efetiva:
“O Mercado actual do Carvão de Pedra da Companhia em Lisboa
offerece as vantagens seguintes: Primeira; o Carvão, que se vende no seu
Depozito, he a Primeira Sorte das Minas de S- Pedro da Cova, o qual pela sua
optima qualidade excede infinitamente a todos os outros combustíveis nos usos,
para que he proprio: Segunda; no mesmo Depozito vende-se o sobredicto Carvão em
quantidades de Fanga, meia Fanga; Alqueire, e meio Alqueire: medida de Lisboa
cogulada, e dobrada, de forma que cada Fanga deita oito Alqueires de Carvão
estreme; Terceira; o carvão he tranportado, e posto em casa dos fregueses á
custa da Companhia, sem que estes tenhão de pagar mais cousa alguma senão o
preço regular de quatorze tostões metalicos por cada fanga de carvão: (...)
Quinta; para o serviço de grandes Fabricas fornece-se o Carvão, recebendo em
troca generos de produção das mesmas fabricas “ (...(Instruções sobre as qualidades, e
prestimo do carvão de pedra das minas de S. Pedro da Cova, Lisboa: Na Impressão
Régia, Anno 1829. P.4).
Em 1902, o Engenheiro Carlos Michaelis de Vasconcelos faz
experiências de vaporização e consumo do carvão de pedra de S. Pedro da Cova.
(Sousa: 1934) Virá a obter os melhores resultados na adoção do carvão nacional
na Central Termoelétrica dos Serviços Municipalizados de. Coimbra
A COMPANHIA E OS ASPETOS SOCIAIS
Assistência social
Seguindo
um plano de importantes e largos melhoramentos, absolutamente em concordância
com as aspirações da moderna sociologia, as minas de S. Pedro da Cova possuem
desde já um largo serviço de assistência que principiou com o estabelecimento
de uma sopa economica que é fornecida aos trabalhadores das minas e depósitos a
um preço minimo; uma cooperativa onde são vendidos aos mineiros e suas familias
generos mais baratos do que se os comprassem em outra qualquer parte; uma
escola profissional com a duração de tres annos para habilitar devidamente o
pessoal a exercer os cargos de capatazes e outros; uma pharmacia magnificamente
installada e assistência medica para todo o pessoal e suas familias.
Não
estaria completo um tão vasto plano, se a Companhia não tivesse tratado de
construir para os seus operários bairros espaçosos e hygienicos, e para os seus
empregados das minas casas agradáveis e confortáveis.
Além
d´estes melhoramentos é ainda concedido ao pessoal mineiro a reforma e os
operários casados recebem um premio por cada filho menor de oito anonos.
São
estes emlinhas geraes os grandes aperfeiçoamentos, quer materiaes quer de ordem
moral e social, introduzidos ha pouco pela Compnahis das Minas de S. Pedro da
Cova que está no proposito de desenvolver ainda mais o plano de melhoramentos,
para o que está dotando os poços e as diversas dependencias das minas dos mais
aperfeiçoados apparelhos. As pesquizas ultimamente feitas deram resultados excellentes,
não só quanto ás disponibilidades do carvão como á sua magnifica qualidade;
depois de submettido aos processos mais modernos, poderá o nosso combustivel
rivalisar com a melhor anthracite da Pensylvania. (...)
Este extrato do texto que prefacia o Álbum das
Instalações da Companhia das Minas de S. Pedro da Cova prova que a angariação
de mão de obra é considerada dependente de algumas condições sociais, talvez as
que mais se destacassem junto de quem procura melhorar a sua vida, ou porque
não aufere o rendimento necessário na terra ou vem de longe carregando o sonho
de uma vida melhor.
É evidente que os perigos permanentes, os inúmeros
acidentes de trabalho, as doenças profissionais como a silicose, a solidão de
quem vem de longe não se constituem como aliciantes de uma mão de obra
qualificada que a extração do carvão exige. Por outro lado, a rentabilidade
precária da exploração das minas pode comprometer os salários e prémios que os
operários mineiros deveriam ter direito. Talvez, estes aspetos se possam
constituir como uma pequena dádiva à espera de colmatar insatisfações e fixar o
operariado. No entanto, não esqueçamos que estas infraestruturas fazem parte da propaganda oficial da Companhia das Minas.
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1921
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1921 Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1921
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1921 Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1921 Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1921
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Complexo Industrial mineiro
Está ligado à extração do carvão e é testemunha das
diversas fases de exploração do carvão.
Cavalete do Poço de São
Vicente – Minas de Carvão de São Pedro da Cova
Projeto – Engenheiro Charles Tournay
Construtor – Engenheiro Fernando Moreira de Sá
Material -Betão Armado
Complexo mineiro - Museu Mineiro
Está classificado como Monumento de
Interesse Público, desde 19 de março de 2010.O Cavalete do Poço de S. Vicente é o elemento que mais se
destaca em todo o complexo.
Trata-se do primeiro cavalete em betão a ser construído
em Portugal. É, afinal, a marca da comunidade mineira.
Imagem de Santa Bárbara, protetora dos mineiros, existente no fundo da Mina e hoje albergada por uma pequena capela.
Casa da Companhia das minas
Operários Mineiros
Folheto Museu Mineiro
Os operários habitam em Gondomar, S. Pedro da Cova em
lugares próximas das minas, em casa pequenas arrendadas.
A alimentação dos operários consta de broa, trigo,
legumes, peixe e raras vezes, carne, fornecidos pelos estabelecimentos das
povoações, sendo várias as formas de pagamento. Em geral, o operário paga
quando recebe a féria.
O trabalho subterrâneo é executado por pessoas de
diversas idades, sendo muitas, de menor idade, debaixo de altas temperaturas e
ar rarefeito.
Os homens desciam para a mina por um elevador (a jaula)
nela encastrado. Levavam o farnel ao ombro, o gasómetro numa mão e o machado na
outra. (pormenor de uma entrevista a uma ex-mineira, já idosa, 1995).
Greves mineiras
Malteses
Denominam-se malteses, os trabalhadores que vêm de fora
da terra na esperança de melhoria de vida. Estes, inicialmente, apenas do sexo
masculino, eram alojados em barracas de madeira, de chão de terra, sem água nem
luz. O quarto de dormir era partilhado por duas ou três pessoas que descansavam
numa tarimba de madeira, cujo colchão era feito de carqueja. Para cozinharem as
refeições utilizavam a pequena lareira que guarnecia o quarto. A roupa era
guardada numa caixa de madeira.
Em 1920, aumenta a
gente de fora. Esta leva é constituída por homens, mulheres e crianças o que dá
origem à necessidade de alojar todas essas famílias. É, então, construído o
primeiro bairro mineiro, o bairro do comboio, construído no local onde antes
tinham funcionado vagonetas sobre carris.
"O Bairro Mineiro faz 100 anos
Com o objetivo de assinalar os 100 anos do Bairro Mineiro
de São Pedro da Cova, a Junta da União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro
da Cova, o Museu Mineiro e a Liga de Amigos do Museu Mineiro, inauguram a 10 de
outubro, pelas 16h30, a exposição de fotografia “100 anos do Bairro Mineiro de
São Pedro da Cova”, seguida de um momento musical assegurado pelos “Meninos do
Bairro Norte & Vasco Balio”, “Vasco Balio & Balio’s Gang” e pela Banda
Musical de São Pedro da Cova (Ensemble)." (publicidade ao evento-outubro 2020)
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1921
Testemunho de Amélia de Freitas, com 85 anos (Sousa:1995):
“Vim morar para o bairro do comboio com a minha mãe, o
meu pai e a mais a minha irmã. Depois nasceram mais rapazes. Viemos de Fafe.
Tínhamos uma cozinha com lareira e dois quartos. Os rapazes dormiam na cozinha
e eu a mais a minha irmã dormíamos num quarto e os pais no outro. Comecei a
trabalhar com oito anos nas minas da Borralha e com treze anos nas minas de S.
Pedro da Cova. Aqui nesta minas abria buracos
para os poço e acartava terra ao balde”.
Por volta de 1927, é construído um barracão para alojar
as mulheres maltesas.
Em 1950, é concebida a primeira Casa da Malta, só para
homens, que substitui as barracas de madeira, onde inicialmente os
malteses eram alojados. Possui um piso pavimentado e sanitários, o que por si só
contribuí para uma maior higiene. Além disso, possuí um fogão coletivo.
Casa da Malta – Museu Mineiro
O Museu é criado
em 30 de setembro de 1989, numa das antigas Casas da Malta, que servia de
alojamento aos mineiros oriundos de outras localidades - os
"malteses". “tem como missão a valorização, divulgação e dinamização
do património geológico e mineiro de São Pedro da Cova. Após o encerramento da
Companhia das Minas de Carvão de São Pedro da Cova, a população orquestrou
ações que proporcionavam a recolha de objetos e documentação industrial
mineira.” ( folheto da Casa da Malta)
O edifício, adquirido à Companhia das Minas de Carvão e
reconstruído pela Junta de Freguesia da Vila de S. Pedro da Cova, constitui um ” exemplo vivo da preservação de todo um
passado histórico relativo à tradição mineira local bem como à memória coletiva
das gentes de São Pedro da Cova”. ( folheto da Casa da Malta)
Trata-se da única casa da malta ainda
existente. Localiza-se em Vila Verde, sendo
da autoria do engenheiro Barreiros Leal, que se encontrava, ao serviço da
Companhia das minas na época. Edificada em 1963/64 é já uma construção moderna,
com estrutura em betão. Como refere a página da União de freguesias de Fânzeres
e S. Pedro da Cova “Foi desenhada de modo a adaptar-se à forma do terreno.
Revela na sua planta uma simetria quase perfeita, que só na zona dos espaços
comuns e no respetivo alçado deixa de existir. A sua forma parece ter sido
inspirada no, já então existente, centro de saúde. É um edifício com dois pisos
onde a escada se assume como um elemento quase escultórico e o mais importante
na organização do espaço. No piso térreo localizavam-se a sala de leitura e de
jogos, a arrecadação de bicicletas, lavatórios, sala de refeições, cozinha,
quartos de banho, arrecadação de lenhas e dormitório com 24 quartos. O 1º piso
tinha capacidade para 28 camas (ou quartos). As condições de alojamento
eram reduzidas. Os quartos (pequenas celas) tinham dimensões muito reduzidas,
com área suficiente para pouco mais que a respetiva cama. Na sua maioria
os quartos possuíam uma janela, acima do campo de visão, talvez por razões de
privacidade, embora alguns mineiros afirmassem que era mais uma forma de
opressão. “As janelas muito altas, fora do alcance e dispostas numa frequência
irritantemente regular, deixam perceber os ambientes opressivos de outros
tempos, numa imitação perversa das galerias subterrâneas.” ( Página União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova)
Quando a Companhia
das Minas de Carvão encerra, o edifício fica ao abandono até 1987, ano em que é
adquirido pela Junta de Freguesia de São Pedro da Cova, que o recupera. “ A
proposta de intervenção consagrou o princípio da reutilização do edifício sem
alterações significativas da sua identidade, mais adequando as suas funções às
disponibilidades existentes que criando espaços adequados às novas funções.” (
página da União de freguesias) Desta forma, no piso inferir, fica a área
administrativa, o bar, a área de convívio e gabinete de apoio aos antigos
operários mineiros, a biblioteca, e sanitários, ficando a restante área
destinada ao Museu. No piso superior, contém uma área de exposição, uma zona de
reuniões, um espaço destinado ao arquivo documental e “uma memória do primitivo
uso, através da presença física, algo desintegrada com as respetivas enxergas.”
(idem) Ao longo do tempo, o espaço foi
perdendo a dinâmica inicial, tornando-se cada vez mais “depósito”, com uma
coleção visitável quase somente por antigos operários mineiros e seus
familiares. Em 2009, começam a ser disponibilizados vários serviços, como:
serviço educativo e documental, bem como a organização de exposições
temporárias, conferências, formações, entre outras.
Entretanto, a deterioração do edifício criou a necessidade da sua beneficiação bem como a reorganização dos espaços segundo as
necessidades museológicas. Assim, em 2012 , com a Liga de Amigos do Museu
Mineiro, é elaborado um projeto aplicado pela Junta de Freguesia de São Pedro
da Cova que poder ser visitado a partir do dia 25 de Abril de 2012.
Coleção
O acervo do Museu Mineiro de São Pedro da Cova iniciou-se com a reunião dos objetos, depois do
encerramento da mina, em 1970 e da ocupação dos escritórios da Companhia pela população local, durante o Verão Quente
de 75, dando origem ao Centro Revolucionário Mineiro, onde nasceu, em 1976, o
primeiro Museu.
A principal coleção que o Museu recebeu resultou, assim dos materiais reunidos durante
o Processo Revolucionário em Curso (PRC), e é composta por objetos e
documentação industrial mineira.
“O Museu Mineiro, com a exposição da sua coleção e da
investigação que dá origem ao programa anual, onde destacamos as exposições
temporárias, proporciona ao seu público o contato com uma história de milhões
de anos.” (Página da União de freguesias)
“A coleção do Museu Mineiro de São Pedro da Cova reúne
hoje fósseis animais e vegetais, utensílios e ferramentas utilizados no desmonte,
tratamento e expedição de carvão e documentação empresarial da CMCSPC.”. (Página da União de
freguesias)
Conta, ainda com uma coleção de Fósseis doada pelo colecionador Firmino Jesus,
do lugar do Passa e que é composta por: trilobites, amonites, peixes e ouriços de
vários pontos do Mundo, como China, EUA, Madagáscar, Marrocos, Bélgica, França
e Espanha.
Acervo Documental da Companhia das Minas de Carvão de São
Pedro da Cova
Este acervo é composto “por cerca de 8 000 processos de
antigos operários, registos de acidentes de trabalho, doenças profissionais, da
Caixa de Previdência do Pessoal, cartões do Sindicato de Mineiros, folhas de
salários e pagamentos, registo de sansões disciplinares, mapas de produção,
plantas técnicas, topográficas e de exploração, registos de indemnizações e
fotografias”. (Página da União de freguesias)
Coleção Industrial
“Transitou em 1989 para o atual Museu Mineiro e é composta
por utensílios e ferramentas utilizados no desmonte, tratamento e expedição de
carvão, maquetes e maquinaria, através dos quais é possível demonstrar e
explicar não só a exploração subterrânea de carvão em São Pedro da Cova, mas
também os processos de tratamento e expedição.
Esta coleção possui também uma vertente antropológica,
retratando a vida das famílias mineiras, com a indumentária e objetos de uso
quotidiano”. (Página da União de freguesias)
Liga dos Amigos do Museu Mineiro
A associação de caráter
cultural, social e política visa a defesa do património histórico que faz parte
da história coletiva do povo de São Pedro da Cova, tendo como lema “ guardar o passado no presente para
termos memória no futuro. Tem como missão:
Contribuir para o alargamento, dinamização e divulgação
do espólio material e imaterial da Casa da Malta / Museu Mineiro;
Desenvolver esforços no sentido de melhorar as
peças expostas, ou em reserva museológica, do Museu;
Trabalhar pelo alargamento do espaço museológico
de São Pedro da Cova, no sentido da criação de um Museu Território;
Lutar pela preservação de todo o Património
Mineiro;
Estabelecer parcerias com instituições públicas
e privadas, de provado interesse da nossa atividade;
Promover trabalho voluntário;
Promover a recuperação e conservação das
instalações da Casa da Malta / Museu Mineiro e suas coleções.
Colaborar na gestão do Museu através do entendimento
entre a Junta da União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova e a sua Direção.
Operários Mineiros
Os operários habitam em Gondomar, S. Pedro da Cova em
lugares próximas das minas, em casa pequenas arrendadas.
A alimentação dos operários consta de broa, trigo,
legumes, peixe e raras vezes, carne, fornecidos pelos estabelecimentos das
povoações, sendo várias as formas de pagamento. Em geral, o operário paga
quando recebe a féria.
O trabalho subterrâneo é executado por pessoas de
diversas idades, sendo muitas, de menor idade, debaixo de altas temperaturas e
ar rarefeito.
Os homens desciam para a mina por um elevador (a jaula)
nela encastrado. Levavam o farnel ao ombro, o gasómetro numa mão e o machado na
outra. (pormenor de uma entrevista a uma ex-mineira, já idosa, 1995).
Trabalho
de Mulheres
Mulheres a empurrar uma vagoneta - Museu Mineiro
Fonte: Álbum Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - as suas instalações, 1921
As mulheres que trabalhavam nas minas de S. Pedro da
Cova, faziam-no só no exterior. O
Decreto Lei nº 8. 804, de 20 de setembro de 1937 proibia o trabalho das
mulheres no subsolo: “ Nenhum indivíduo do sexo feminino seja qual for a sua
idade, poderá ser empregado em trabalhos subterrâneos.
Desta forma, as mulheres, “escolhedeiras” ocupavam-se d o
carvão em bruto, tal como saía da mina, frente a uma mesa comprida e rolante,
retirando tudo o que trazia agarrado
como madeira ou pedra. Depois de retirada esta matéria “estéril”, o carvão
entrava numa máquina de trituração, onde
eram esmagadas as pedras maiores. De seguida, seguia para o terreiro
onde as britadeiras britavam os pedaços mais pequenos, e era separado o carvão,
conforme a qualidade.
Escolhido o carvão, o estéril (resíduos não aproveitáveis)
era carregado em vagoneiras para o depósito do “Alto do Gódio”.
Doenças
profissionais
Os mineiros de S. Pedro da Cova eram expostos a todo o tipo de poeiras, sem nenhuma
proteção.
Só, por volta de 1950-60, se começa a falar da “doença do
pó”, a silicose, doença grave e mortal.
Nesta década, vários operários apresentaram queixa em
tribunal, tendo como resposta o
despedimento.
Mais tarde, o mineiro silicótico obtinha uma pensão de
“desvalorização”, ou seja, incapacidade física causada pela mina. Estas pensões
eram pagas pelas companhias seguradoras, pela Companhia das Minas, ultimamente
pela Caixa Nacional de Doenças. No entanto, o grau de incapacidade era desvalorizado
e o valor das pensões irrisório.
No entanto, os mineiros estavam sujeitos a outras doenças como as relacionadas com o parasitismo intestinal, devido à água inquinada e pouca higiene verificada no interior e exterior das minas.
Diz Serafim Gesta, num opusculo que publicou à sua conta, ( Gesta: 1985) sem todavia citar fontes, que em 1926, a Inspeção sanitária do Trabalho, num ofício dirigido à Companhia das Minas que se impõe tomar medidas para debelar a doença, como cuidados com água e sujidade das mãos. Os mineiros queixam-se de comichão nos pés e pernas o que poderia ter a ver, aventa a Inspeção com água inquinada e sujidade das mãos, ao ingerir alimentos. Ordena-se que os mineiros usem calçado grosso e que se lavem sempre que deixam o trabalho e que bebam água fervida, bem como a instalação de balneários e que nas latrinas (baldes de ferro) se lance cal viva ou leite de cal, depois de serem usadas para defecar, impondo-se multas a quem não o cumprir.
No entanto, este problema estudado pelo médico Carlos Ramalhão afeta mais os mineiros que vivem anos sucessivos no interior das minas, tendo a sua origem no ar infestado e na humidade facilitadora do desenvolvimento da larva.
Com efeito, o que é referido por Carlos Ramalhão no Congresso Nacional de Medicina, foi-nos testemunhado por vários mineiros que trabalhavam no fundo das minas totalmente nus ou nus da cinta para cima, dadas as temperaturas verificadas, descalços, comendo a bucha sem preocupações de limpeza e fazendo as suas necessidades onde calhava, já que poucos poços eram dotados de retrete. (
Malteses
Denominam-se malteses, os trabalhadores que vêm de fora
da terra na esperança de melhoria de vida. Estes, inicialmente, apenas do sexo
masculino, eram alojados em barracas de madeira, de chão de terra, sem água nem
luz. O quarto de dormir era partilhado por duas ou três pessoas que descansavam
numa tarimba de madeira, cujo colchão era feito de carqueja. Para cozinharem as
refeições utilizavam a pequena lareira que guarnecia o quarto. A roupa era
guardada numa caixa de madeira.
Em 1920, aumenta a
gente de fora. Esta leva é constituída por homens, mulheres e crianças o que dá
origem à necessidade de alojar todas essas famílias. É, então, construído o
primeiro bairro mineiro, o bairro do comboio, construído no local onde antes
tinham funcionado vagonetas sobre carris.
Testemunho de Amélia de Freitas, com 85 anos (Sousa:1995):
“Vim morar para o bairro do comboio com a minha mãe, o
meu pai e a mais a minha irmã. Depois nasceram mais rapazes. Viemos de Fafe.
Tínhamos uma cozinha com lareira e dois quartos. Os rapazes dormiam na cozinha
e eu a mais a minha irmã dormíamos num quarto e os pais no outro. Comecei a
trabalhar com oito anos nas minas da Borralha e com treze anos nas minas de S.
Pedro da Cova. Aqui nesta minas abria buracos
para os poço e acartava terra ao balde”.
Por volta de 1927, é construído um barracão para alojar
as mulheres maltesas.
Em 1950, é concebida a primeira Casa da Malta, só para
homens, que substitui as barracas de madeira, onde inicialmente os
malteses eram alojados. Possui um piso pavimentado e sanitários, o que por si só
contribuí para uma maior higiene. Além disso, possuí um fogão coletivo.
Casa da Malta – Museu Mineiro
Foto – Folheto Museu Mineiro
O Museu é criado
em 30 de setembro de 1989, numa das antigas Casas da Malta, que servia de
alojamento aos mineiros oriundos de outras localidades - os
"malteses". “tem como missão a valorização, divulgação e dinamização
do património geológico e mineiro de São Pedro da Cova. Após o encerramento da
Companhia das Minas de Carvão de São Pedro da Cova, a população orquestrou
ações que proporcionavam a recolha de objetos e documentação industrial
mineira.” ( folheto da Casa da Malta)
O edifício, adquirido à Companhia das Minas de Carvão é
reconstruído pela Junta de Freguesia da Vila de S. Pedro da Cova,
constituindo um” exemplo vivo da
preservação de todo um passado histórico relativo à tradição mineira local bem
como à memória coletiva das gentes de São Pedro da Cova”. ( folheto da Casa da
Malta)
O espaço guarda os bens móveis possíveis de recolher à
época do encerramento da Companhia das Minas de Carvão de São Pedro da Cova,
apresentando também uma seção geológica através da exposição da coleção de
fósseis e pedras de carvão.
Enormes roldanas colocadas na torre-cavalete que movimentam a jaula.
Fonte: Álbum da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova. As suas instalações, 1940
Esquema de funcionamento do elevador da mina
Zorra - Museu Mineiro
Título da Companhia das Minas
Aviso de Encerramento das Minas de S. Pedro da Cova:
Por manifesta impossibilidade económica de continuar a exploração destas Minas, em virtude do cancelamento das expedições para a Central da Tapada do Outeiro, e se terem gorado as negociações com a companhia Portuguesa de Eletricidade para a sua integração, sou encarregado de transmitir a todo o pessoal que a Ex.mª Administração desta Companhia resolveu, ontem, parar a laboração destas Minas a partir do dia 25 do corrente mês (exclusive´)
Minas de S. Pedro da Cova, 4 de Março de 1970
(assinado pelo engenheiro diretor técnico)
Fontes:
Fontes Escritas
Arquivo do Centro de Documentação e Informação da Universidade
Popular do Porto
- Projecto Memórias do
Trabalho – testemunho do Porto laboral no século XX
(Arquivo CDI-UPP)
´Fonseca, António, As minhas memórias ( manuscrito)
Fontes Orais
- Entrevista a António Fonseca, realizada por mim, em 1988.
Publicações Periódicas
Comércio do Porto – Fevereiro e Março de 1946.
Jornal de Noticias – Fevereiro e Março de 1946.
A Batalha – Julho – Setembro de 1923
O Diálogo – Fevereiro de 1975
Webografia
Cronologia 1900-2002, centro de documentação movimento operário
e popular
do Porto, Universidade Popular do Porto, em
http://cdi.upp.pt/ - - 29.11.2020
Museu Mineiro, Rota dos museus, disponível em: http://www.roteirodeminas.pt/point.aspx?v=78cb72d6-47fe-4847-848d-0fd9248a137f
( novembro, 2020)
Página da União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova,
disponível em:
https://www.fanzeres-saopedrodacova.pt/index.php/noticias-2/noticia/64-rotativo-topo-museu-mineiro/1969-museu-mineiro - 29.11.2020
Audiovisuais
SIMÕES, Rui. São Pedro da Cova. Portugal, Real Ficção, 1976.
Bibliografia
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Companhia das Minas de S. Pedro da Cova. As suas Instalações, Álbum, 1940
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