Frei Manuel Santa Inês, Baguim
Frei Manuel de
Santa Inês nasceu em Baguim do Monte, a 4 de Dezembro de 1762. Os seus pais
foram os lavradores Inácio Ferreira e Maria Antónia.
Aos dezoito anos
entrou para o Mosteiro dos religiosos Eremitas Descalços de Santo Agostinho ou
Colégio dos Grilos.
Durante as
Invasões Francesas, em 1808, obedecendo às ordens do Governador e Presidente da
Junta Suprema da Cidade do Porto, o
bispo D. António de S. José e Castro
tornou-se cabo de esquadra de uma companhia de religiosos.
Teve o
cargo de Definidor, dignidade que só se concedia aos mais respeitáveis e cultos
padres da Congregação.
Foi Visitador Geral dos conventos da sua Ordem.
Em 1816, foi
eleito Geral da Ordem.
Em 1820, quando
D. Pedro chega ao Porto, como o Bispo, com ideologia Miguelista tivesse fugido,
encontrava-se a cadeira de bispo vazia ( sede vacante), nomeia Frei Manuel de
Santa Inês, conhecido pelos seu fervor liberal, Bispo do Porto.
Este religioso
consegue, durante o Cerco do Porto de 1832-1833, que os Agostinhos fossem
transferidos do Seminário de Santo António ou “ Seminário Velho”, nas
Fontainhas, que tinha sido destruído por um incêndio, para o Convento e Igreja
de S. Lourenço (dos Grilos), tornando-o seminário diocesano, em 2 de Abril de
1834.
Durante o seu
mandato enriqueceu a sua ordem.
Faleceu a 24 de
Janeiro de 1840. Pela sua morte, toda a
cidade se vestiu de luto. No dia do seu funeral, a multidão que lhe prestava
homenagem opôs-se a que fosse enterrado num lugar descampado do claustro da Sé
do Porto e exigiu que fosse sepultado na Real Capela da Lapa, com grande pompa.
Mais tarde foi trasladado para um monumento de mármore no cemitério privado
da Ordem da Lapa, mandado erigir à sua memória,
pelos habitantes da Cidade do Porto.
Memória
de Frei Manuel Santa Inês, em Baguim
Frei Manuel Santa Inês, Baguim, Foto de Fátima Gomes, 1997
Em 1982, Baguim do Monte homenageou
Frei Manuel Santa Inês encomendando uma escultura ao escultor João Barata Feyo,
que foi erigida no jardim, junto da Igreja de Baguim.
Encontra-se, ainda,
em Baguim, a casa onde o frade viveu com a família.
Com efeito, quem
vai do largo de S. Brás para a Estação de Rio Tinto, encontra à esquerda, a Rua
Frei Manuel de Santa Inês que passa à Aldeia de Baguim. Do lado direito, desta
rua, fica a casa onde viveu Frei Manuel de Santa Inês e seu irmão, o padre João
Ferreira. A casa ostenta uma lápide com o seguinte registo:
“Nesta casa nasceu a 2 de Dezembro de 1762,
Manuel Ferreira em religião Frei D. Manuel santa Inês, frade Agostinho e bispo
eleito do Porto de 15-8-1883 a 24-1-1840, data da sua morte 27-1-1963.
Homenagem dos habitantes de
Baguim, seus conterrâneos”.
Frei Manuel Santa Inês
“ A mitra não cingio a sua fronte
Mas falte a mitra embora, dessa
falta
Nada seu grande nome se ressente
Adornado, como elle, de virtudes
Outro não existio, que assim
cumprisse
Do sacro ministerio as funções
todas”
Inscrição do mausoléu
de Santa Inês no Cemitério da Lapa
Mausoléu de Manuel de Santa Inês, Cemitério da Lapa, 2015
Mausoléu de Manuel de Santa Inês, Cemitério da Lapa, 2015
Fontes e Bibliografia para o estudo da vida e
obra de Santa Inês:
ALMEIDA,
Fortunato, História da Igreja em Portugal, livro IV, p. 318.
FERREIRA,
Monsenhor Augusto, Memórias Arqueológicas-Históricas da Cidade do Porto, vol II.
OLIVEIRA,
Camilo, O Concelho de Gondomar (Apontamentos Monográficos), vol. II,
Imprensa Moderna Limitada, Porto, 1933,pp. 117, 458.
OLIVEIRA,
Camilo, O Concelho de Gondomar (Apontamentos Monográficos), vol. III,
Imprensa Moderna Limitada, Porto, 1934, pp. 175-188.
SOUSA REIS,
Henrique Duarte e, secretário privado de Santa Inês, Biografia Manuscrita, conservada na Biblioteca Pública
Municipal do Porto.
Periódico
dos Pobres no Porto, 1840, p. 99 e 100.
Diário
do Governo, nº 28, de 1 de Fevereiro de 1840
Vedeta
da Liberdade, nº 30, de 6 de Fevereiro de 1840
Informação complementar.
Notícia de Frei ;Manuel
De Santa Inês em Oliveira, Camilo, O Concelho de Gondomar (Apontamentos
Monográficos), vol. II, Imprensa Moderna Limitada, Porto, 1933.
Vol II , p. 117 :
“Na sala
dos manuscritos da Biblioteca P.
Municipal do Porto, estão recolhidos uns livros que em tempos lhe foram
ofertados pelo falecido abade aposentado de Miragaia, Ver. Dr. Pedro Augusto
Ferreira; e entre eles, encontra-se um intitulado Catálogo dos Religiosos
professos na Real Congregação dos Agostinhos Descalços de Portugal. Principia
por fazer a história desta instituição religiosa. Depois traz o Catálogo de
todos os religiosos Agostinhos Descalços que houve em Portugal, desde 1665,
data da implantação definitiva da Descalcez no nosso país, até à extinção das
Ordens Religiosas (1834)
(…) Desta mesma
freguesia de Rio Tinto há a registar mais sob o nº 1370, Frei Manuel Santa Inês (Padre Mestre e Vigário Geral) que professou
na Mão Pedrosa, a 8 de Março de
1781. Foi este eclesiástico bispo do Porto, por D. Pedro IV, de quem nos
ocuparemos noutro lugar.
A nota final
elucida que em Portugal a Congregação reformada teve 169 anos de existência ,
1957 religiosos e 18 conventos, a saber: Grilo ou Monte Olivete, Boa Hora do
Chiado, Boa Hora de Belém, Santa Rita, Setúbal, Estremoz, S. Lourenço, Formiga
ou Mão Poderosa, Portalegre, Monsaraz, Évora, Coimbra, Porto, Sobreda,
Santarém, Baía, Porto de mós e Malhada Sôrda.”
Vol II , p. 458
(…) “Rio Tinto teve
homens ilustres, como Frei Manuel de Santa Inês, natural de Baguim do Monte,
que foi eleito bispo do Porto” (….)
Dramatização da vida e obra de Frei Manuel Santa Inês
1ª cena
(Várias pessoas espalhadas pelo palco)
Havia um tal Manuel Ferreira
Que era muito religioso
Tornou-se o frade Santa Inês
Mais tarde bispo famoso
Nasceu a 4 de Dezembro
De mil setecentos e sessenta e dois
A aldeia de Baguim do Monte
Não o adivinhava depois.
Era filho dos lavradores
Maria Antónia e Inácio Ferreira
Comia caldo com boroa
Jogava ao pião na eira.
2ª cena
Projecção - Casa Frei
Manuel Santa Inês
Entra em cena um rapaz com um arco e a jogar peão.
Cantarola:
O ladrão morreu
A comer tomates
Meninas bonitas
Não são pr’ alfaiates.
Sai mulher a chamar:
- Ó Manel! Manel! Vem
jantar rapaz!
Vê o filho e aproxima-se.
- Olhe senhora mãe este efeito! Até me esqueci do jantar com
tanta genica. Desculpe senhora mãe!
- Este rapaz, Deus mo proteja, só pensa na brincadeira!
Entram.
3ª cena
Aos dezoito anos Manuel Ferreira entrou para o Mosteiro dos
Religiosos Eremitas Descalços de Santo Agostinho ou Colégio dos Grilos.
(Manuel despede-se da família (pai-mãe-irmão).
Enfia farda preta.
Narrador (voz off):
Recebe o nome de Frei Manuel de Santa Inês.
Pouco depois, pela sua conduta exemplar foi mestre dos
noviços e Reitor eleito do Colégio de Santa Rita de Coimbra. Voltou, mais
tarde, para o seu convento.
4ª cena
Projecção – Igreja de Baguim – Imagens procissão S. Brás
Pipa de vinho – rabeca
Um cego – aleijado pede esmola.
Vendedeiras apregoam figos; papas de sarrabulho…
Entra uma família e estende uma toalha branca. Traz cesto
com merendeiro.
Crianças brincam. Dança.
Entra grupo etnográfico e dá espectáculo.
Alguém diz:
- Faz-me berrar aí essa rabeca!
Entra Frei Manuel. Toda a gente vem pedir-lhe a bênção.
Brincadeira de roda:
Nós temos um rei,
Chamado João,
Faz o que lhe dizem,
Come o que lhe dão;
E vae para Mafra
Cantar canto-chão
5ª cena
(projecção - Imagens da Revolução Francesa)
Narrador voz off:
D. João VI não acatou o Bloqueio Continental de Napoleão,
por isso os franceses invadiram Portugal e D. João fugiu para o Brasil.
O governo foi entregue a uma Junta presidida pelo marechal
inglês Beresford. Os Portugueses ansiavam pelo regresso do Rei e pela expulsão
dos ingleses.
Crescia a aversão aos franceses, pelas atitudes indecorosas
dos chefes militares e pelos roubos de prata e ouro.
Em 1808, o bispo D. António de S. José e Castro organiza a
resistência organizando um corpo militar eclesiástico do qual faz parte Frei
Manuel Santa como Cabo de Esquadra .
(Atrás da tela, vê-se grupo de soldados com cartolas e
baionetas – ruído de guerra)
Aparece um popular-parvo que pergunta ( resposta em coro,
atrás do pano) :
- Quem perde Portugal?
“O Marechal.
Quem sanciona a lei?
“O Rei.
Quem são os
executores?
“Os Governadores.
Para o marechal – um
punhal.
Para o rei – a lei.
Para os governadores
os executores.
Narrador (voz off):
- Em 1820, a Revolução realizada no Porto, no dia 24 de
Agosto, fortaleceu o princípio da soberania nacional e operacionalizou o
princípio “Para o rei a lei”. No seu seguimento, as cortes constituintes
redigiram a Constituição que foi jurada pelo rei em 1822.
D.Pedro outorgou a Carta Constitucional, em 1826, e abdicou do
poder na mão da sua filha D. Maria da Glória que se deveria casar com o tio, D.
Miguel, que, entretanto regressou a Portugal para governar durante a menoridade
da noiva.
Na verdade, a rainha Carlota Joaquina era partidária do
absolutismo e aliava-se ao filho D. Miguel para conspirar contra o
constitucionalismo. Quando D. Miguel chegou a Portugal, em 1828, tomou conte do
governo, dissolveu o parlamento e fez-se sagrar rei pela convocação dos três
estados segundo a lei antiga – estava restaurado o Antigo Regime.
Começaram as perseguições contra os liberais.
(canção – imagens – cena à frente da tela)
D. Miguel chegou à
barra
Sua mãe lhe deu a mão:
- Vem cá filho da minha
alma,
Não queiras constituição.
Rei chegou,
rei chegou,
Em Belém
desembarcou!
Venha cá, ó sôr
malhado,
Sente-se nesta
cadeira,
Diga: Viva D. Miguel,
Se não parto-lhe a
caveira.
Rei chegou!
Rei chegou!
E o papel
Não assinou.
Fora patife,
Fora malhado, Fora
caipira,
Desavergonhado.
Liberais
Para espalhar a fome
Uma moda se inventou,
Quanto mais a fome
aperta
Mais se canta o Rei
Chegou!
Rei chegou!
Rei chegou!
Em Belém
Desembarcou
E aos coices
Começou, Porque palha
Não achou!
Miguelistas
D. Miguel chegou à
barra,
Voltou costas à nação,
Rogando pragas
malditas
À nova Constituição
Liberais
Ó Pátria, Ó Rei, ó
Povo,
Ama a tua religião,
Observa e guarda
sempre
Liberal Constituição.
Coro:
Rei chegou!
Rei chegou!
Aos malhados não
fallou,
realistas abraçou.
Coro:
Oh Braga fiel,
Oh Porto ladrão,
Que sempre quizeste
A Constituição.
(sombras- perseguição)
Narrador (voz off) :
Rodopiavam os cacetes contra os partidários constitucionais.
Organizaram-se as alçadas e arvoraram-se as forcas. Foi um tempo de violenta
repressão, sequestros e assassinatos que provocaram a união do partido liberal
sob os interesses dinásticos de D. Pedro.
As notícias da congregação de emigrados políticos na Ilha Terceira
animaram os que estavam debaixo da repressão miguelista. Quando havia notícias
favoráveis, os Miguelistas, desesperados, corriam as ruas desancando os
liberais que encontravam.
( popular –parvo- entra em cena e diz – é secundado na
sombra, em coro)
Chegou o paquete
Trabalha o cacete
Em 9 de Fevereiro de 1831 surge um decreto que cria comissões especiais para
julgarem as pessoas compreendidas nos
crimes de aliciação para a revolta, sedição, ou movimentos tumultuários.
(art.2º )
Nele se ordena que um dos magistrados, à escolha do
presidente, fosse encarregado da instrução sumária e simplesmente verbal.
Deste modo, a paz das famílias era quebrada pelas denúncias
de qualquer inimigo ou malquerença.
Era tal a convicção miguelista que alguns dos seus
admiradores alteravam o sentido das palavras O Senhor fundou o seu reino na
cruz e diziam que D. Miguel firmava o reino com o cacete.
Outros, mais tarde, haviam de pôr-lhe o busto sobre um
altar-mor e cantar-lhe missa.
Alguns padres faziam, do púlpito, tribuna de demagogos e incitavam
o povo a ódios e a vinganças.
Por esta forma, os pregadores inspiravam ao povo o pior dos
ódios, o fanatismo, que vinha adicionar-se aos rancores políticos.
No entanto, por esta altura, Frei Manuel proclamava:
Eu sou um padre
cristão e estou convencido de que a religião, que professo, há-de sempre medrar
com as adesões sinceras. A boa fé de alguns, o fanatismo de muitos, o ódio de
muitos mais, fizeram de uma fórmula simples, humana e franca, uma arma terrível.
Não a temo como padre. Se os que se chamam católicos, o são porque não têm
liberdade para deixarem de o ser, de pouco servirão para a Igreja de Deus. Eu
creio na minha religião. A liberdade de consciência não afastará as almas do
seu benéfico seio.
Trabalho com os que
pedem a reforma das ordens religiosas, porque, na minha consciência, entendo
que são lumes apagados. Mas oponho-me a que as condenem de raiz. Algumas destas
regras oferecem a mudez e o silêncio modesto às almas entristecidas,
desencantadas do mundo e voltadas para o ideal, para Deus; outras,
hospitaleiras, praticam afectuosas dedicações ao próximo. Enfim, desejo
conservar alguma coisa do passado, porque muitas das instituições antigas me
parecem justas.
(…)
Narrador (voz off):
(projecções)
- O clero ignorante limitava as suas aspirações à
continuação dos dízimos e prebendas.
E assim teve o partido miguelista por agentes, na
perseguição dos liberais, muitas das suas autoridades; por comparsa do drama, a
plebe por elas sublevada; por demagogos, muitos padres; por argumento, as
prisões; e às vezes, por conclusão, a forca.
(vultos negros atas da tela)
O partido liberal era representado por mulheres de luto,
filhos órfãos, ou separados dos pais, e casas arruinadas e empobrecidas. O que
nele havia válido, jazia entre ferros, estava exilado, ou escondido.
(Entram na boca de cena os vultos vestidos de preto com bandeiras
liberais.)
6ª cena
Frei Manuel Santa Inês foi Definidor da Ordem dos
Agostinhos; Visitador Geral dos Conventos da sua Ordem, vindo a tornar-se Geral
da Ordem, em 1816. Durante o seu mandato, fez grandes obras, reformou costumes,
regendo a comunidade com sabedoria, obtendo só gratidão.
(grupo de pessoas com ponchos pretos elevam o frade em
cadeirinha)
7ª cena
Cerco do Porto.
No palco - Pessoas vestidas de preto – estendendo a mão para
uma esmola.
Chega D. Pedro projectado
Canção:
A Pedro imortal,
Fiel gratidão:
Amor e respeito
À Constituição.
Ao Porto enlaçada,
Em doce união,
Vila Nova jura
A Constituição
Enquanto um só Luso
Der culto à razão,
Eterna há-de ser
A Constituição.
Dos filhos da Pátria
Constante brazão,
Será defender
A Constituição.
Mulher grita:
- O bispo foge!
Entra D. Pedro:
- Chamem Frei Manuel Santa Inês
hei-de fazer dele bispo desta sempre Leal e invicta cidade
do Porto!
Narrador (voz off):
- O abandono da cidade por Magalhães e Avelar bastou para
que D. Pedro nomeasse governador do bispado o agostinho liberal, natural de Baguim
do Monte e residente no convento da Formiga, Frei Manuel Santa Inês, a 18 de
Junho de 1832.
7ª cena
Projecção – imagens guerra
(dança)
Ó meu amor, se te
fores
Leva-me, podendo ser;
Ai que lindos amores
que eu tenho!
Aguarda que eu já
venho.
Que eu quero ir passar
meus dias
Pra onde tu fores
viver.
Ai que lindos amores
que eu tenho!
Aguarda aqui que eu já
venho.
Lá na serra de Valongo
Uma velha apregoou:
Ai que lindos amores
que eu tenho,
Os caipiras já lá vão.
Quem quer comprar que
eu vendo
As armas do Rei
Chegou.
Ai que lindos amores
que eu tenho,
Os caipiras já lá vão.
Da janela do palácio
Me atiraram com uma
funda,
Deu na guarda, deu na
ronda,
Deu nas costas dum
corcunda.
8ª cena
Narrador (voz off):
(projecções)
A institucionalização do Liberalismo em Portugal, trouxe um
mundo novo, livre de peias seculares e mais aberto ao progresso e à igualdade e
fraternidade.
A Lei da saúde pública zelou para que nunca mais os mortos
convivessem com os vivos – incentivou a construção de cemitérios.
Ainda durante o cerco do Porto foi promulgada a extinção das
ordens religiosas. A 12 de Dezembro de 1832 foi nomeada uma comissão para administrar
os bens dos conventos e mosteiros da cidade do Porto.
Manuel de Santa Inês não aceitou muito bem estas directivas
liberais. Conseguiu, no entanto, o Convento e Igreja de S. Lourenço para
seminário, mas cedeu na venda à Câmara da Quinta do Padrão da Mitra, onde viria
a construir-se o cemitério do Prado do Repouso. Foi na bênção deste, debaixo de
chuva e frio, que veio a adoecer.
Faleceu a 24 de Janeiro de 1840.
No dia do seu funeral, a multidão que lhe prestava homenagem
opôs-se a que fosse enterrado num lugar descampado do claustro da Sé do Porto e
exigiu que fosse sepultado na Real Capela da Lapa, com grande pompa. Mais tarde,
foi trasladado para um monumento de mármore no cemitério privado da Ordem da Lapa,
mandado erigir à sua memória, pelos habitantes da Cidade do Porto. Nele se lê:
“A mitra não cingiu a
sua fronte
Mas falta a mitra
embora, dessa falta
Nada seu grande nome
se ressente
Adornado, como ele, de
virtudes
Outro não existiu, que
assim cumprisse
Do sacro ministério as
funções todas”.
Vêm todos à frente e cantam:
Baqueou a tirania,
Nobre povo és
vencedor,
Generoso, ousado e
livre,
Demos glória ao teu
valor.
Eia, avante,
portugueses,
Eia, avante! Não
temer!
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer!
Gazeta de Lisboa, de 1 de Novembro de 1832.