O século XVI é revolucionário nos costumes e
tradições devido ao confronto de culturas, proporcionado pela Expansão
Europeia. Como reflexo desta época, no reinado de D. Manuel I, em que Portugal era
um dos países mais ricos do mundo, os banquetes contavam com numerosos manjares
temperados com açúcar, canela, especiarias e muitos outros temperados com
açúcar, canela, especiarias diversas e muitos outros temperos, em tal
quantidade, que se tornavam, por vezes, desagradável ao paladar. A presença dos
novos ingredientes está patente no Livro da Infanta D. Maria, o primeiro livro
de receitas que se conhece.
Tradicionalmente, a base da alimentação era a
carne, já que Portugal era um país de coutadas e de baldios e grande parte dos
impostos eram pagos em animais de criação.
A carne era cozinhada no espeto, cozida,
estufada ou picada. No século XVI, o pavão americano, ou real passa a ser
afamado.
Numa época em que a economia portuguesa
dependia, em grande parte do mar, o peixe era muito consumido, sobretudo pelos
grupos sociais mais desfavorecidos. A Igreja, ao legislar sessenta e oito dias,
no ano, de abstinência, contribuía para este consumo.
Além do peixe fresco, cozinhado frito ou em
empadas, o século XVI também consumia o peixe salgado, fumado ou seco.
As hortaliças e legumes não eram muito
apreciados entre os grupos sociais superiores, mas o povo consumia-os
abundantemente.
Nas casas ricas, na Idade Média usava-se as
ervas de cheiro (coentros, salsa, hortelã, sumo de limão, de agraço, de cebola
e de pinhões). Com a Expansão, generaliza-se o uso do cravo, açafrão, pimenta e
gengibre.
As viandas de leite são muito usadas, nesta
altura, sobretudo como sobremesas.
Os ovos eram consumidos com fartura. A
abundância de ovos era consequência natural da abundância de criação. Além de
serem componente importante da cozinha elaborada, os ovos eram cozinhados
cozidos, escalfados e mexidos.
A fruta desempenhava fator de relevo na dieta
mediterrânea. A viagem de Vasco da Gama dá a conhecer a laranja doce (até ali
só se conhecia a azeda).
A fruta também era consumida em conservas ou
doces.
O Renascimento incrementou a arte doceira,
pouco frequente na Idade Média, dado o alto preço do açúcar.
O pão de trigo era fabricado em forma
circular, servindo de alimento e de suporte para a comida. A castanha e a
bolota vão ser destronadas, do século XVI ao século XVIII, pela batata trazida
da América. No entanto, o produto que mais revolucionará a alimentação é, sem
dúvida, o milho maiz, pela possibilidade que dá de confecionar farinhas
diversas para pão, papas e bolos.
O feijão americano passa a usar-se, também,
na alimentação moderna.
O arroz, vindo da Ásia, vai entrando
lentamente nos hábitos europeus.
O Renascimento dá a conhecer bebidas até ali
desconhecidas como o chá. O café e o chocolate, trazidos pelo comércio intercontinental.
O vinho continua a ser usual como acompanhamento.
Os Banquetes, no século XVI, apresentavam um
cerimonial próprio: criados empunhavam tochas, precediam a chegada das iguarias
e do vinho à mesa.
Antes das refeições, era costume lavar-se as
mãos em bacias trazidas por serviçais.
Nos banquetes requintados, a água era
perfumada. As mãos eram limpas a napeiras (toalhas pequenas).
Sobre a mesa dispunham-se peças de
ourivesaria com fins decorativos e utilitários.
Os manjares eram trazidos dentro de terrinas
ou bacias.
Na Idade Média, a carne e o peixe eram
comidos em cima de rodelas de pão. Com o tempo, o talhador de madeira, salva
grande onde a carne era trinchada, substituiu o pão.
Para a sopa e outros e outros alimentos
líquidos, usavam-se escudelas de madeira, de prata ou de barro, as tigelas. A
pouco e pouco, o uso destes artigos estendeu-se, também, aos alimentos sólidos.
Existia um talhador ou escudela para cada dois convivas.
Utilizavam-se pouco as colheres. Cada conviva
levava a própria faca para o banquete. Os garfos eram desconhecidos. Para
beber, usavam-se copos, os tais ou tagras.
Galinha
Cozida e ensopada
Tomarão
esta galinha e cozê-la-ão com salsa, coentro, hortelã e cebola. Então deitar-lhe-ão
sua têmpera de vinagre e, depois dela temperada e cozida, tomarão a ferver
noutra, e deitar-lhe-ão dentro na mesma panela meia dúzia de ovos; e com este mesmo caldo dos ovos tomarão dois
pares de gemas de outros ovos e batê-los-ão e farão um caldo amarelo; e tomarão
a mesma galinha e pô-la-ão num prato com suas fatias, pôr-lhe-ão os ovos que
estão cozidos por derredor, e então deitar-lhe-ão o mesmo caldo amarelo dos
outros ovos por riba e deitar-lhe-ão canela pisada por riba.
Tigelada de leite
Tomarão
quatro ovos e açúcar e farinha, que será cinco colheres de prata numa escudela,
tudo batido; e tomarão numa tigelinha de barro e nela derreterão uma pouca de
manteiga, que será tanta como uma noz em cada tigela. E depois que for
derretida, deitarão este polme, que será temperado com sal, então mandá-lo-ão
para deitar por cima depois que se coalhar.
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