sexta-feira, 20 de março de 2015

ALIMENTAÇÃO NA ÉPOCA QUINHENTISTA

O século XVI é revolucionário nos costumes e tradições devido ao confronto de culturas, proporcionado pela Expansão Europeia. Como reflexo desta época, no reinado de D. Manuel I, em que Portugal era um dos países mais ricos do mundo, os banquetes contavam com numerosos manjares temperados com açúcar, canela, especiarias e muitos outros temperados com açúcar, canela, especiarias diversas e muitos outros temperos, em tal quantidade, que se tornavam, por vezes, desagradável ao paladar. A presença dos novos ingredientes está patente no Livro da Infanta D. Maria, o primeiro livro de receitas que se conhece.
Tradicionalmente, a base da alimentação era a carne, já que Portugal era um país de coutadas e de baldios e grande parte dos impostos eram pagos em animais de criação.
A carne era cozinhada no espeto, cozida, estufada ou picada. No século XVI, o pavão americano, ou real passa a ser afamado.
Numa época em que a economia portuguesa dependia, em grande parte do mar, o peixe era muito consumido, sobretudo pelos grupos sociais mais desfavorecidos. A Igreja, ao legislar sessenta e oito dias, no ano, de abstinência, contribuía para este consumo.
Além do peixe fresco, cozinhado frito ou em empadas, o século XVI também consumia o peixe salgado, fumado ou seco.
As hortaliças e legumes não eram muito apreciados entre os grupos sociais superiores, mas o povo consumia-os abundantemente.
Nas casas ricas, na Idade Média usava-se as ervas de cheiro (coentros, salsa, hortelã, sumo de limão, de agraço, de cebola e de pinhões). Com a Expansão, generaliza-se o uso do cravo, açafrão, pimenta e gengibre.
As viandas de leite são muito usadas, nesta altura, sobretudo como sobremesas.
Os ovos eram consumidos com fartura. A abundância de ovos era consequência natural da abundância de criação. Além de serem componente importante da cozinha elaborada, os ovos eram cozinhados cozidos, escalfados e mexidos.
A fruta desempenhava fator de relevo na dieta mediterrânea. A viagem de Vasco da Gama dá a conhecer a laranja doce (até ali só se conhecia a azeda).
A fruta também era consumida em conservas ou doces.
O Renascimento incrementou a arte doceira, pouco frequente na Idade Média, dado o alto preço do açúcar.
O pão de trigo era fabricado em forma circular, servindo de alimento e de suporte para a comida. A castanha e a bolota vão ser destronadas, do século XVI ao século XVIII, pela batata trazida da América. No entanto, o produto que mais revolucionará a alimentação é, sem dúvida, o milho maiz, pela possibilidade que dá de confecionar farinhas diversas para pão, papas e bolos.
O feijão americano passa a usar-se, também, na alimentação moderna.
O arroz, vindo da Ásia, vai entrando lentamente nos hábitos europeus.
O Renascimento dá a conhecer bebidas até ali desconhecidas como o chá. O café e o chocolate, trazidos pelo comércio intercontinental.
O vinho continua a ser usual como acompanhamento.

Os Banquetes, no século XVI, apresentavam um cerimonial próprio: criados empunhavam tochas, precediam a chegada das iguarias e do vinho à mesa.
Antes das refeições, era costume lavar-se as mãos em bacias trazidas por serviçais.
Nos banquetes requintados, a água era perfumada. As mãos eram limpas a napeiras (toalhas pequenas).
Sobre a mesa dispunham-se peças de ourivesaria com fins decorativos e utilitários.
Os manjares eram trazidos dentro de terrinas ou bacias.
Na Idade Média, a carne e o peixe eram comidos em cima de rodelas de pão. Com o tempo, o talhador de madeira, salva grande onde a carne era trinchada, substituiu o pão.
Para a sopa e outros e outros alimentos líquidos, usavam-se escudelas de madeira, de prata ou de barro, as tigelas. A pouco e pouco, o uso destes artigos estendeu-se, também, aos alimentos sólidos. Existia um talhador ou escudela para cada dois convivas.
Utilizavam-se pouco as colheres. Cada conviva levava a própria faca para o banquete. Os garfos eram desconhecidos. Para beber, usavam-se copos, os tais ou tagras.



Galinha Cozida e ensopada

Tomarão esta galinha e cozê-la-ão com salsa, coentro, hortelã e cebola. Então deitar-lhe-ão sua têmpera de vinagre e, depois dela temperada e cozida, tomarão a ferver noutra, e deitar-lhe-ão dentro na mesma panela meia dúzia de ovos;  e com este mesmo caldo dos ovos tomarão dois pares de gemas de outros ovos e batê-los-ão e farão um caldo amarelo; e tomarão a mesma galinha e pô-la-ão num prato com suas fatias, pôr-lhe-ão os ovos que estão cozidos por derredor, e então deitar-lhe-ão o mesmo caldo amarelo dos outros ovos por riba e deitar-lhe-ão canela pisada por riba.

Tigelada de leite


Tomarão quatro ovos e açúcar e farinha, que será cinco colheres de prata numa escudela, tudo batido; e tomarão numa tigelinha de barro e nela derreterão uma pouca de manteiga, que será tanta como uma noz em cada tigela. E depois que for derretida, deitarão este polme, que será temperado com sal, então mandá-lo-ão para deitar por cima depois que se coalhar.

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